"Já se torna algo característico." Novos sismos sentidos na ilha Terceira esta segunda-feira de manhã
Rita Carmo, do CIVISA, explica, em declarações à TSF, que os sismos das últimas horas fazem parte de uma crise que já começou há mais de dois anos.
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Dois novos sismos foram sentidos esta segunda-feira de manhã na Terceira, contabilizando-se seis eventos naquela ilha dos Açores desde as 00h00, segundo o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).
Os dois sismos mais recentes foram registados às 08h08 locais (09h08 em Lisboa), sendo que o primeiro teve magnitude 2,6 na escala de Richter e epicentro a cerca de três quilómetros a sul de Raminho (concelho de Angra do Heroísmo), e o segundo teve magnitude 2,7 e epicentro a cerca de três quilómetros a leste da Serreta, no mesmo município.
"De acordo com a informação disponível até ao momento, os sismos foram sentidos com intensidade máxima IV (escala de Mercalli Modificada) em Raminho, Serreta e Altares (concelho de Angra do Heroísmo), e em Biscoitos, Quatro Ribeiras e Agualva (concelho de Praia da Vitória). Os eventos foram ainda sentidos com intensidade III em Doze Ribeiras, Santa Bárbara e Cinco Ribeiras (concelho de Angra do Heroísmo)", adianta o CIVISA.
Rita Carmo, do CIVISA, explica, em declarações à TSF, que os sismos das últimas horas fazem parte de uma crise que já começou há mais de dois anos.
“A crise sismo-vulcânica no vulcão de Santa Bárbara, que se iniciou em junho de 2022, continua, mantendo o seu padrão, que já se torna algo característico, que é pontuado por períodos de maior libertação de energia, quer seja na frequência do número de sismos registados, quer seja ao nível da magnitude dos eventos que ocorrem”, explica, sublinhando que a semana anterior foi marcada por um período mais calmo no que diz respeito à micro-sismicidade.
A especialista fala, contudo, num “incremento significativo, que se refletiu na energia dos eventos libertados” sentido na madrugada desta segunda-feira.
“O evento mais forte ocorreu às 03h27 e atingiu uma magnitude de 3,7 e foi amplamente sentida em quase toda a ilha Terceira, sendo que atingiu intensidade máxima de 5,0 nas freguesias mais próximas do epicentro”, aponta.
Apesar de estes fenómenos estarem sob o olhar atento de vários especialistas, nomeadamente no que diz respeito à “reativação do vulcão de Santa Bárbara”, comprovado pela variação de dois parâmetros - “o incremento da sismicidade e o padrão da deformação que se mantém como aquele que se tem vindo a registrar nos últimos dias” -, não é possível prever com certeza aquilo que pode acontecer no futuro.
“O desenrolar disto, poderá haver vários cenários e é para isso que nós estamos cá, porque podemos ter um cenário em que a situação pura e simplesmente não evolui ou podemos ter outro cenário que pode evoluir para um cenário vulcânico. Temos várias técnicas a monitorizar para se perceber o que se está realmente a passar”, insiste.
Rita Carmo assinala ainda a origem vulcânica dos Açores, “que faz parte da história e da formação das ilhas”, mas reconhece, ainda assim que, em épocas que há mais sismos, a população fica preocupada.
“As pessoas, logicamente, e com toda a sua naturalidade, ficam apreensivas com esta situação. É normal. Nós sabemos que a sismicidade é recorrente aqui nos Açores, faz parte da história e pela formação das ilhas. Se não fosse a sismicidade e o vulcanismo, as ilhas dos Açores não existiriam, mas a verdade é que nós, devido ao nosso enquadramento, à nossa localização numa zona de fronteiras de placas e também associado a uma zona onde existe uma anomalia de mantélica, nós temos este fenómeno, embora pouco frequente”, confessa.
A especialista do CIVISA sublinha, contudo, que é importante lembrar que “os sismos destruidores ou erupções vulcânicas”, que atingem fortemente países como a Islândia, são “pouco frequentes” na ilha portuguesa.
O primeiro abalo registado esta madrugada na Terceira ocorreu às 01h26 locais (02h26 em Lisboa) e teve epicentro a cerca de quatro quilómetros a este da Serreta, no concelho de Angra do Heroísmo, com magnitude 2,6 na escala de Richter.
Em 27 de junho, o CIVISA subiu o nível de alerta relativo ao vulcão de Santa Bárbara para V3 e o do sistema vulcânico fissural da ilha Terceira para V1.
Nos níveis de alerta vulcânico, V0 significa "estado de repouso" e V6 "erupção em curso", de acordo com a informação disponível na página do CIVISA. O nível V3 confirma a reativação do sistema vulcânico, existindo sinais de atividade elevada.
A escala de Mercalli Modificada mede os "graus de intensidade e respetiva descrição".
Com intensidade V, considerada forte, os sismos são sentidos fora de casa, as pessoas são acordadas, os líquidos oscilam e alguns extravasam, pequenos objetos em equilíbrio instável deslocam-se ou são derrubados, as portas oscilam, fecham-se ou abrem-se, ao passo que os estores e quadros se movem e os pêndulos de relógios param ou alteram o estado de oscilação, de acordo com a descrição do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) na sua página da Internet.
Com uma intensidade IV, considerada moderada, "os objetos suspensos baloiçam, a vibração é semelhante à provocada pela passagem de veículos pesados ou à sensação de pancada de uma bola pesada nas paredes, os carros estacionados balançam, as janelas, portas e loiças tremem, os vidros e loiças chocam ou tilintam e na parte superior deste grau as paredes e as estruturas de madeira rangem", descreve o IPMA.
Segundo a escala de Richter, os sismos são classificados segundo a sua magnitude como micro (menos de 2,0), muito pequenos (2,0-2,9), pequenos (3,0-3,9), ligeiros (4,0-4,9), moderados (5,0-5,9), forte (6,0-6,9), grandes (7,0-7,9), importantes (8,0-8,9), excecionais (9,0-9,9) e extremos (quando superior a 10).
