"Já somos da terra." Circo retido em Poiares desde início do estado de emergência

Rafaela Carvalho/DR
Mesmo com o plano de desconfinamento, a companhia vai ficar em Poiares.
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O Eddy Circus está em Poiares desde o dia 12 de março. A companhia de circo ia apresentar o espetáculo quando foi declarado o estado de emergência e teve de ficar por ali. O dia-a-dia é "complicado", mas Virgínio Marinho, diretor técnico, assegura que estão "tranquilos, e a ser tratados com muito carinho pela população e pela Câmara Municipal".
Todos os dias são visitados por pessoas que querem ajudar e levam medicamentos, comida ou ração para os animais. A preocupação é partilhada pela população, conta Virgínio, porque "as pessoas vêm aqui e choram. Não é pela nossa questão financeira, é pelo que se está a passar, porque o palhaço que devia estar a fazer rir, está a chorar".
O circo ficou instalado num terreno particular, num "sítio fantástico, com bom pasto". Burros, cabras, póneis, cães ou pombas partilham o espaço em tendas ou no campo, num total de cerca de 30 animais.
O Eddy Circus tem 10 elementos, mas em Poiares ficaram apenas cinco pessoas, a família de Virgínio. Todos os dias ensaiam, aproveitam para "fazer limpezas", "lavar uns toldos" ou põem a conversa em dia. Virgínio Marinho garante que até os animais sentem a falta do circo, porque "quando o meu filho põe música de circo, ou se puser um número de um animal, ele já sabe que a música é dele e fica impaciente, quer ir trabalhar".
Apesar dos treinos diários, a saudade do espetáculo já pesa. "Falta-nos ver a criança a sorrir, faltam os aplausos, falta o andar de terra em terra com a casa às costas. Onde é que está o cheiro das pipocas? O cheiro do serrim que metemos na pista? Desde pequeninos que sentimos isso, e isso tudo nos falta. Não somos pessoas de estar paradas, nascemos no circo", lamenta.
Mesmo com o levantamento do Estado de Emergência, Virgínio não acredita que volte a trabalhar nos próximos tempos, porque "não vai haver nenhuma câmara municipal que autorize a entrar na vila, cidade ou aldeia, porque têm medo. Nós vamos ser os últimos a entrar em atividade, para mim este ano esqueceu".
Seja este ano ou no próximo, o primeiro espetáculo vai ser em Poiares e de "portas abertas" para agradecer o apoio da população, garante Virgínio Marinho. "Já disse ao meu filho: nós somos o Eddy Circus, mas não sei se no futuro não hei de pôr "Eddy Circus Poiares", porque já somos da terra".