"Inesperado, mas absolutamente merecido." João Barrento vence Prémio Camões 2023
Para o ministro da Cultura, o ensaísta, tradutor e crítico literário João Barrento, de 83 anos, é "um dos pensadores mais acutilantes da arte e da cultura em Portugal".
Corpo do artigo
O autor João Barrento foi distinguido com o Prémio Camões 2023, anunciou esta terça-feira o Ministério português da Cultura.
"João Barrento foi reconhecido pelo júri como autor de uma obra relevante e singular em que avultam o ensaio e a tradução literária. Em particular, as suas traduções de literatura de língua alemã, que vão da idade média à época contemporânea, e em todos os géneros literários, formam o mais consistente corpo de traduções literárias do nosso património cultural e constituem indubitavelmente um meio de enriquecimento da língua e de difusão em português das grandes obras da literatura mundial", lê-se no comunicado, que cita o júri.
Para o ministro português da Cultura, Pedro Adão e Silva, o ensaísta, tradutor e crítico literário João Barrento, de 83 anos, é "um dos pensadores mais acutilantes da arte e da cultura em Portugal".
"É uma escolha um pouco inesperada, mas absolutamente merecida"
O presidente da Sociedade Portuguesa de Autores considera merecida a atribuição do Prémio Camões a João Barrento. José Jorge Letria afirma à TSF que a distinção vem reconhecer a "brilhante e extensa" obra do ensaísta e tradutor.
TSF\audio\2023\10\noticias\10\jose_jorge_letria_escolha_inesperada
"É um grande investigador no domínio da literatura, é um ensaísta de grande prestígio, que deixou ao longo destas últimas décadas uma obra extensa como ensaísta, como professor universitário, como académico e, portanto, é um prémio muito merecido que vem destacar a importância da sua obra de ensaio que tem afirmado no espaço da lusofonia ao longo de vários anos. É realmente um grande autor, um autor de grande prestígio, sobretudo no domínio da literatura alemã em que ele deixou uma obra muito extensa e brilhante", considera.
José Jorge Letria destaca uma carreira versátil e afirma que João Barrento "é mais do que um tradutor".
"Este prémio tem deixado, por vezes, um pouco esquecidos os ensaístas, os tradutores e pessoas que fazem investigação académica"
TSF\audio\2023\10\noticias\10\jose_jorge_letria_mais_que_tradutor
"A sua condição de tradutor é complementar em relação à sua condição de investigador e de ensaísta. Normalmente este prémio distingue grandes escritores e grandes figuras na área da criação literária e tem deixado por vezes um pouco esquecidos os ensaístas, os tradutores e pessoas que fazem investigação académica no domínio em que o João Barrento se afirmou", explica.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Autores refere, ainda, o facto de, desta vez, o Prémio Camões ter ficado em Portugal.
TSF\audio\2023\10\noticias\10\jose_jorge_letria_portugal
"Fica em Portugal e fica nas mãos de um académico, de um tradutor e de um investigador brilhante, com décadas de trabalho ao serviço da cultura portuguesa e da literatura portuguesa a Portugal e no mundo", atira.
No ano passado o vencedor do Prémio Camões foi o escritor e ensaísta brasileiro Silviano Santiago.
Também cronista e professor, João Barrento nasceu a 26 de abril de 1940 em Alter do Chão.
Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e publicou diversos livros de ensaio, crítica literária e crónica.
De 1965 a 1968, foi leitor de português na Universidade de Hamburgo e, mais tarde, leitor de alemão na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se tornado tradutor literário de língua alemã.
De 1986 até se jubilar, foi professor de Literatura Alemã e Comparada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Traduz literatura e filosofia de língua alemã, tendo transporto para língua portuguesa e prefaciado dezenas de autores de língua alemã, particularmente de poesia, da expressão mais antiga à mais moderna e contemporânea, além de obras de ficção, filosofia e teatro.
Ao longo da vida foi distinguido com vários prémios, nomeadamente o Calouste Gulbenkian da Academia das Ciências de Lisboa para a Tradução de Poesia, o Grande Prémio de Tradução do PEN Clube Português/Associação Portuguesa de Tradutores (pela obra de Goethe e pela tradução integral de "Fausto"), o Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho e o Prémio D. Diniz, da Fundação da Casa de Mateus.
Em 2022, recebeu o prémio Vida Literária Vitor Aguiar e Silva da Associação Portuguesa de Escritores, com a Câmara Municipal de Braga.
João Barrento conquistou o Grande Prémio de Crónica da APE, em 2007, com o livro "A Escala do Meu Mundo".
O júri da 35.ª edição do Prémio Camões foi constituído por Abel Barros Baptista, professor catedrático da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Isabel Cristina Mateus, professora na Universidade do Minho, Cleber Ranieri Ribas de Almeida, professor na Universidade Federal do Piauí, Brasil, Deonísio da Silva, professor jubilado da Universidade Federal de São Carlos, Brasil, pela poetisa são-tomense Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, e por Dionísio Bahule, professor da Universidade Pedagógica de Maputo.
O Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, foi instituído pelos governos de Portugal e do Brasil, visando distinguir um escritor cuja obra contribua para a projeção da Língua Portuguesa, e foi atribuído pela primeira vez em 1989 ao escritor Miguel Torga (1907-1995).