João Fernandes: "Com governo reduzido que aproveitem para aumentar as competências nas regiões"
O setor do Turismo entra na nova legislatura sem ter uma secretaria de Estado em exclusivo para partilhar a pasta com o Comércio e com os Serviços, na tutela do Ministério da Economia, sob os comandos de António Costa Silva o que leva o presidente da Associação e Região de Turismo do Algarve, João Fernandes a manifestar algumas reservas quanto a esta orgânica do governo e a apelar à transferência de competências para as regiões.
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No rescaldo da apresentação do novo governo, como é que vê esta nova secretaria de Estado do Turismo, Comércio e Serviços? O turismo perdeu força ao deixar de ter uma secretaria de Estado própria?
Mais importante do que os protagonistas são as políticas e mais importante do que orgânica são as concretizações. De facto, olhando apenas para a orgânica, não podemos deixar de ter algumas reticências em relação à perda de exclusividade na secretaria de Estado para o turismo. Mas, mais importante do que o desenho da orgânica é o que esperamos no futuro. A minha expectativa é a de que um governo que acaba por ter dimensões mais reduzidas concentra, naturalmente, várias áreas em cada pasta. Espero que sendo um governo que tem toda a estabilidade política para desenvolver os seus intentos, e sendo um desses intentos a regionalização que, aproveite para, reduzindo a estrutura, aumente as competências nas regiões para que, em proximidade, e com maior eficiência e conhecimento de causa, se possam também dirigir políticas públicas para o setor do turismo a partir das entidades regionais de turismo.
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Quais deverão ser as principais prioridades do governo no que diz respeito ao turismo?
O diagnóstico está feito há muito e, felizmente, é dos poucos setores que tem uma estratégia há muitos anos e que é revista com periodicidade. Temos em curso a Estratégia Turismo 2027 (ET27) que tem o propósito de, ciclicamente, desenhar as apostas do ponto de vista de mercados, de produtos, os grandes desígnios como a sustentabilidade e a digitalização. A necessidade de diversificarmos a oferta e de gerarmos novas motivações de visita. De criarmos novos espaços de oportunidade em mercados que sejam interessantes do ponto de vista do próprio aumento do valor que o turista aporta a cada território, dentro do país. Temos essa estratégia definida, que casa também com a estratégia regional que revimos e que aqui foi referida. Não penso que seja necessário rever, entretanto, estes grandes objetivos.
Na semana passada, o agora antigo Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, rejeitou um novo pacote de apoios para o turismo, no seguimento das ajudas anunciadas pelo governo devido à inflação e ao aumento dos preços da energia. Como vê esta decisão? O turismo precisa ou não de mais apoios para enfrentar a atual conjuntura?
O turismo, durante estes dois anos que passaram, passou com muita resiliência por uma dificuldade extrema que foi a paragem da procura. Um fenómeno que é bastante adverso para qualquer atividade económica. Durante esses dois anos foi possível impedir um esperado aumento do desemprego e das falências das empresas porque houve apoios do Estado, e esses apoios foram capazes de fazer efeito tampão a esse impacto. Não obstante, é natural que, ainda estando numa fase de retoma e com empresas ainda descapitalizadas, para que sejamos capazes de dar resposta à procura que haverá, muitas empresas em diferentes segmentos que precisam de apoios. Algumas nem chegaram a tê-los, por especificidades da sua atividade. Por exemplo, as rent-a-car que ao terem vendido as frotas acabaram por não ter na folha de Excel um balanço desequilibrado porque tiveram uma receita extraordinária, mas, como venderam os seus ativos e agora precisam deles para dar resposta à procura, vão ter de fazer um investimento para o qual não têm capital. Há instrumentos de capitalização que já foram lançados e que estão em vigor com o Banco de Fomento. Mais importantes do que novas linhas [de apoio] é que as linhas que foram desenhadas sejam mais ágeis a chegar às empresas. Estou a falar de linhas que são protocoladas com a banca em que o desenho que o governo previu está bem desenhado mas depois quando chegamos à entidade bancária demoramos uma eternidade a ter uma resposta e, muitas vezes, essa resposta não é consequente com o primeiro objetivo.
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A Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) pediu o pagamento com urgência da segunda tranche do Incentivo Extraordinário à Normalização da Atividade Empresarial, por causa do impacto da subida generalizada dos preços, alegando que a maioria das empresas continua "numa situação financeira muito delicada". Esta situação pode vir a afetar a atividade do Turismo em geral no próximo Verão?
Há linhas de apoio, é importante que elas se concretizem junto das empresas. E, atendendo a que acabámos de sair de uma crise, temos diante de nós um período que é ainda muito incerto, apesar dos sinais das reservas que temos em carteira serem muito positivos. A verdade é que não sabemos qual será o futuro face a este conflito que existe na Ucrânia. Já sabemos que há impactos que não sendo, imediatamente, na procura, já se estão a fazer sentir ao nível dos preços das matérias-primas, dos recursos humanos, da energia e que impactarão nas empresas. E aí sim, no âmbito dos fatores de produção, é necessário haver aqui um equilíbrio para que as empresas possam ganhar fôlego com a retoma e assim estarem preparadas para os desafios.
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Em que ponto estão as reservas para o período da Páscoa?
Para a Páscoa a hotelaria espera cerca de 65% de taxa de ocupação, mas ainda estamos a um período bastante lato de meados de abril. Sabemos que a Páscoa é muito procurada no Algarve por portugueses e espanhóis que reservam mais perto da época de férias - a nossa expetativa é que chegamos a uma taxa de ocupação de 90%, que é um excelente sinal. Estão a ser praticados bons preços, que permitem consolidar esta recuperação ao nível dos golfes, que estão cheios. A primeira época alta do golfe é de março a maio. Temos os rent-a-car com uma forte procura com o condicionamento da redução de frota, mas com taxas de ocupação acima de 90%. No fim de semana a seguir à Páscoa, temos bons níveis de reservas por causa do 25 de abril e da realização do Moto GP, a 24 de abril. Os mercados internacionais estão, felizmente, também a dar sinais muito interessantes de retoma, ao nível das reservas e da conectividade. As companhias aéreas e operadores estão a retomar, de forma muito clara, a níveis próximos de 2019 em termos de ligações aéreas para o Algarve. Os cinco maiores operadores aéreos da região - Ryanair, easyjet, Jet2, Transavia e British Airways - contam com uma recuperarão mais de 90% das conectividades e 99% das ligações a diferentes mercados. Temos os cinco maiores mercados para o Algarve, em termos de ligações aéreas, com uma recuperação de 88% das ligações ao nível do que tínhamos em 2019 para o verão.
O Algarve pode ser o tal "porto seguro" este ano, para visitantes estrangeiros que procurem não só sol e mal mas também outro tipo de turismo, como disse há dias, na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o Presidente da República?
Sim. Felizmente, em janeiro e fevereiro de 2020 - os dois meses antes da pandemia - que são o pico da época baixa no Algarve, estávamos a crescer 15,3%. Parte dessa procura era também devido a portugueses, que já começaram a descobrir o Algarve em época baixa. Muita gente não sabe que existem cascatas no interior do Algarve, que é possível, no fundo, desfrutar de um Inverno a fazer caminhadas, passeios a cavalo, de bicicleta, em contacto com a natureza, num interior que irá surpreender muitos daqueles que já gostam do Algarve mas que, normalmente o visitam apenas na época balnear e no litoral. O nosso maior património está no próprio território.
E em relação ao Verão, o Algarve conseguirá chegar próximo dos níveis pré-pandemia?
Considerando um Verão pós-Páscoa e até ao final de outubro, com os dados que temos hoje, esperamos chegar já perto daquilo que seria um ano de normalidade. Quando falamos de normalidade, comparamos com 2019 - o ano recorde de todos os anos. A nossa expetativa é chegarmos a 2023 com números semelhantes ao melhor ano de sempre que foi 2019. Este ano, esperamos chegar próximos de um ano normal e penso que, a julgar pela informação de que dispomos, pode vir a acontecer. O turismo é a indústria da paz e prospera quando não há conflito. E temos um conflito no seio da Europa que muitos apenas o perspetivam como um conflito distante e que isso, eventualmente, irá gerar desvio de fluxos e que teremos uma enchente por essa via. Temos de nos lembrar, não só dos impactos indiretos que já referi, que muitas vezes comem grande parte da margem de lucro de tudo aquilo que acrescentamos em relação ao ano anterior. Qual será o comportamento de mercados emissores como a Suécia, a Finlândia, a Polónia que confinam com a Rússia? Qual será a evolução da Alemanha que é o maior mercado emissor de turistas da Europa? Não sabemos. À partida, o facto de sermos o país mais distante do conflito na Europa, de haver uma vontade reprimida de viajar dos nossos principais mercados, como o Reino Unido, dos portugueses terem redescoberto um Algarve fora da época alta, do golfe passar a estar disponível, dá-nos boas perspetiva mas ainda há um grau de incerteza grande.
A operação TAP, em 2019, representou apenas 3% dos passageiros desembarcados em Faro. A Região de Turismo do Algarve tem criticado a falta de estratégia da companhia aérea na região. Como é que a TAP poderia servir melhor o Algarve e porque é que essa aposta não é feita?
Somos todos portugueses e percebemos quando há uma companhia como a TAP, que somos chamados a contribuir. Contribuímos, normalmente, para empresas públicas porque beneficiamos delas. São estanhos os números relativos ao desempenho da TAP para principal região turística do país, sendo um operador que se distingue por ter um grande impacto no turismo, e no Algarve representar 3%. Não contesto o modelo ''hub and spoke' [conexão entre destinos através de um ponto intermediário], não é essa a questão que nos tem levado a criticar a atuação da TAP. Contesto sim, o facto de também queremos beneficiar desse modelo e isso implica que a TAP melhore, claramente, as ligações para as quais nos não temos "ponto-a-ponto". Ou seja, que a TAP tenha rotas para os mercados emissores para os quais não dispomos de ligações diretas que permitam ao Algarve também beneficiar dessas ligações. E isso implica não só essa melhor conectividade com os nossos mercados emissores como também uma melhor conectividade com o Algarve. O que estranho é que a TAP, depois de uma injeção de capital do Estado, reduza as parcas ligações que tem ao Algarve. Tinha três ligações no Inverno e cinco ligações diárias no Verão IATA. Deixou de as ter e passa agora a ter apenas três ligações Lisboa-Algarve para o Verão deste ano. Não é normal que isto aconteça numa companhia onde acabámos de investir todos tantos recursos que fazem falta também para outras áreas. É aqui que considero que está o grande défice de atenção da TAP para com a região.
A RTA reuniu diversas vezes com a antiga administração da TAP. E com a nova, já houve algumas conversações para conseguirem debater propostas e soluções?
Ainda aguardo essa reunião. Não é por falta de disponibilidade nossa, certamente, nem por falta de propostas que já havíamos apresentado. Uma empresa muda de administração mas não deixa de ter lá as propostas que lhe foram apresentadas, as reivindicações dos diferentes parceiros e, inclusive, de promover essas reuniões considerando que tem novos elementos na liderança.
Como é que olha para o processo de reestruturação da TAP?
Não discordo que devamos ter uma TAP com capacidade instalada, é fundamental para nos ligar ao outro lado do Atlântico, é uma companhia de bandeira que tem, ao longo dos anos, servido o país. O que reivindico é que o país não acabe em Lisboa. Tem de ser realmente a transportadora aérea nacional e não apenas um modelo de uma empresa que tem de subsistir. Não critico a existência de uma TAP e as reestruturações que tiver de fazer - e aí são matérias muito complexas que não domino em profundidade.
Considera que um novo aeroporto em Portugal iria beneficiar a captação de mais turistas para o Algarve pela distribuição de novos fluxos, mesmo para a ligação a Faro? Que leitura faz do atraso deste projeto?
É importante que Lisboa, centralizando um conjunto de voos que acabam por poder beneficiar outras regiões, reforce a sua capacidade. Vimos que em 2018 e em 2019 o aeroporto de Lisboa estava francamente limitado nas respostas ao nível dos slots. Já não havia grande disponibilidade para aumentar muito a sua capacidade. No setor todos concordam que Lisboa precisa de uma nova estrutura e que, tão rápido quanto possível, deve estar disponível. O prazo não é de menor importância. Mesmo o Turismo de Portugal, quando faz estimativas na tal estratégia ET27, prevê que em 2027 estejamos a ter 27 mil milhões de euros em receitas [turísticas]. Para isso é preciso conseguir captar um número bastante mais robusto do que aquele que conseguimos em 2019, ano recorde, em que obtivemos 18 mil milhões de euros de receita.
Estou a falar nas receitas e não nos turistas porque o acréscimo de receita entre 2024 e 2027 sobre o valor recorde de 2019 é mais elevada do que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). É isto que digo quando falo do aeroporto de Lisboa; a oportunidade que temos é enorme também para a captação de receita que depois é importante para todos os setores e para a própria melhoria do Estado. Tendemos a olhar para pacotes financeiros que vêm de fora e temos um setor que gera muito mais do que esses valores num curto espaço de tempo.
Estava projetada uma nova ligação direta a Kiev para este Verão...como ficou esse projeto?
Infelizmente foi suspensa. Ao diversificar mercados queremos reduzir a dependência que temos, por exemplo, do mercado britânico. Não perdemos hóspedes do Reino Unido, mas crescemos muito noutros mercados. Este exercício implica descobrir novos mercados emissores. E estávamos a fazê-lo com a Ucrânia - como a Madeira também estava. Tivemos uma primeira operação, que foi um balão de ensaio, em 2019, com a [companhia aérea] SkyUp. Um projeto em julho e agosto com um voo semanal. Teve bons resultados e conseguimos negociar uma operação mais alargada e com maior número de frequências de serviços. Estávamos a falar de 9400 lugares para uma primeira abordagem, entre junho e outubro [deste ano].
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Como estão a reagir os turistas britânicos e irlandeses desde o início do ano?
Esses dois mercados representam 73% das voltas de golfe no Algarve. Mal caíram as restrições no Reino Unido foi uma retoma imediata nas reservas, nomeadamente para o segmento de golfe. Os golfes já estão com uma procura elevadíssima porque os seus principais mercados - Reino Unido e Irlanda - aderiram a esta possibilidade.
Já mercado interno foi uma surpresa para a região nos últimos dois anos. Em 2021, segundo o INE, registaram-se 5,2 milhões de dormidas de turistas portugueses, o maior número de sempre. Para este ano, e com o fim da pandemia, é expectável manter esta fatia de turistas?
Sempre que há uma crise há uma retração do mercado externo e os mercados de proximidade fazem algum efeito tampão e viajam em proximidade. Nesta crise sanitária, muita gente que estava habituada a viajar para fora sobretudo no Verão acabou por ir para o Algarve. É natural que, havendo a possibilidade de viajar para um leque mais vasto de áreas geográficas que isso retome.
Mas há alguma estratégia definida para a captação do mercado doméstico?
Não há melhor estratégia para o destino Algarve do que dar a conhecer o destino. Muitos dos que estes dois últimos anos foram ao Algarve já não iam há muito tempo e já não estavam a ir à região, sobretudo na época balnear. Neste momento vamos ter, provavelmente, uma redução da procura dos portugueses porque podem viajar para outros espaços. Temos sempre campanhas dirigidas ao mercado nacional. Somos há mais de 40 anos seguidos o principal destino de estrangeiros que visitam Portugal, mas também de portugueses que viajam no seu país, em número de dormidas de hotelaria.
O Algarve vai ter braços suficientes para dar resposta à procura? Os recursos humanos continuam a ser um dos principais desafios da região.
Sempre que há uma crise parte da emigração que é, também a solução para muitas das áreas mais operacionais, regressa aos seus países. No período imediatamente a seguir de retoma há sempre esta dificuldade. Mas há também um problema que é estrutural: o facto de termos uma pirâmide etária invertida; temos cada vez menos jovens e mais qualificados que querem, naturalmente, outro tipo de funções que não operacionais. Temos de trazer gente de fora que seja bem acolhida. Temos vindo a trabalhar, desde o próprio dia da invasão da Ucrânia, com a Segurança Social, com o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e com muitas outras organizações. Somos a segunda região que mais refugiados está a acolher. Primeiro, numa perspetiva de dar segurança, legalizar, de dar conforto e colo. Mas já com muitas oportunidades de emprego registadas e disponíveis. Há um reconhecimento grande dos empresários pela comunidade ucraniana e a sua prestação enquanto recursos humanos do setor. Durante a BTL reuni com o presidente do Instituto de Turismo de Cabo Verde para desenvolvermos mais projetos bilaterais fruto do acordo da CPLP. Temos em mãos um instrumento que é a rede de países terceiros, que organiza trabalho temporário de outros países. Temos também um trabalho com o SEF e com o IEFP para trazer pessoas de outras paragens para trabalhar na região.
Quantas pessoas é que faltam para trabalhar na região?
Em tempos foi veiculado o valor de 85 mil pessoas que faziam falta ao setor do turismo em Portugal e diria que o Algarve corresponde a uma fatia de 33%. É difícil estimar, até porque a necessidade não é igual ao longo de todo o ano. O Algarve tem uma sazonalidade marcada. Uma das necessidades que temos, e que é difícil de ultrapassar, é o período do pico da procura. Independentemente de esbatermos a sazonalidade, temos oito mil trabalhadores para aqueles dois meses e meio do ano, que será um trabalho a prazo e não é possível manter durante todo o ano. Essa é uma grande dificuldade neste momento. Antigamente podíamos ir recrutar ao Alentejo, ao Cento, ao Norte. Hoje, felizmente, essas regiões já têm turismo e fixam esses profissionais
Os salários são referidos como um dos principais fatores pela falta de atratividade no setor do turismo. O turismo pode pagar mais ou o futuro passará, sempre, por recorrer a trabalhadores estrangeiros que aceitem receber menos?
A ideia de ter trabalhadores estrangeiros não é consequente com a ideia de pagar menos. O que queremos também é reposicionar o próprio destino no sentido de captar mais receita para poder pagar melhor, seja um português ou um estrangeiro, não tem de haver diferenciação. Muito menos num setor que se dirige à diferença de braços abertos.
Mas o turismo não tem conseguido ocupar as ofertas de trabalho com mão de obra nacional e, portanto, uma das grandes soluções apontadas pelo setor é exatamente ir buscar trabalhadores lá fora...
Tem razão. Em todas as outras crises a primeira coisa que o turismo fazia era baixar preços, tentar vender mais barato para conseguir competir por preço. Nesta crise isso não aconteceu, foi a primeira vez. É preferível termos menos turistas e conseguirmos mais valor por turista, porque isso induz receita para toda a cadeia de valor do turismo. Deixa mais riqueza na região e permite pagar melhores salários. O nosso desígnio de trazer pessoas de fora tem a ver, muitas vezes, com o facto da população portuguesa ter poucos jovens a entrar na população ativa e estes terem aspirações de não desenvolver tarefas mais operacionais, como vemos em todos os países desenvolvidos por esta Europa fora. Por isso temos de ir recrutar pessoas com menos qualificação, mas isso não nos isenta do exercício de termos de pagar melhores salários e termos de qualificar essas pessoas que se fixam no território.
Acabou de ser reeleito para um novo mandato. Por onde vai passar o plano estratégico de atuação? Pela área da sustentabilidade?
Sou Engenheiro do Ambiente e não renego essa condição, sendo essa a minha perspetiva. O nosso objetivo é acentuar esse caminho, diversificar a oferta, diversificar mercados, atenuar sazonalidade, reduzir a litoralização, diferenciar pela autenticidade. A sustentabilidade e a digitalização não são possibilidades, têm de acontecer.