Suspeitas são "raciocínio delirante". João Paulo Rebelo não se afasta de candidatura de Pedro Nuno Santos
O ex-secretário de Estado, envolvido numa investigação por suspeitas de abuso de poder, avisa adversários de que não deviam "ficar satisfeitos" porque "qualquer dia é com outro".
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O antigo secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Rebelo, afirma que só "raciocínios muito delirantes" podem considerar verosímil que tenha tentado algum tipo de ato ilegal "numa reunião onde estavam 14 autarcas".
Em declarações aos jornalistas, esta tarde, na Assembleia da República, João Paulo Rebelo confirmou que, esta terça-feira, enquanto se encontrava fora do país, teve conhecimento de que as habitações, em Lisboa e em Viseu, estavam a ser alvo de buscas, no âmbito da "Operação Arrangements". Em causa estão eventuais crimes de participação económica em negócio e de abuso de poderes, por titular de cargo político, assim como de usurpação de funções.
"Tive conhecimento de que estavam sete agentes na minha casa em Viseu e sete agentes na minha casa em Lisboa, a fazer buscas", confirma.
"Fui contactado por um agente da Polícia Judiciária, bastante simpático, que tinha conhecimento de que eu estava em Madrid, e que me disse que queriam aceder aos dados do meu telemóvel", conta, acrescentando que respondeu que assim que chegasse a Lisboa estava disponível para prestar todos os esclarecimentos e que foi isso que fez, dirigindo-se às instalações da PJ, onde deixou o telemóvel.
O antigo governante sublinha que não está a ser acusado de nada, que ainda não foi, sequer, constituído arguido e que a investigação diz respeito a factos que aconteceram "há três anos e meio", quando, além de secretário de Estado, era responsável público pelo combate à Covid-19 na região Centro.
"À data, apresentei explicações mais do que suficientes", afirma, lembrando que, na altura, reuniu com diversos organismos e entidades a propósito do combate à pandemia e que teve conhecimento de uma empresa privada "que já estava a fazer cem testes diários à Covid para o Hospital de Viseu". Tratava-se de uma empresa, refere, com "equipamentos e recursos" e que estava a ser elogiada pela "generosidade do contributo" no combate à Covid, motivo pelo qual a sugeriu numa reunião com a comunidade intermunicipal de Viseu Dão-Lafões. Nessa reunião, sublinha, estavam presentes 14 autarcas - tanto do PS como do PSD - e João Paulo Rebelo, assegura, limitou-se a passar essa informação. "Não tive mais nenhum envolvimento no processo", garante.
João Paulo Rebelo espera agora que haja conclusões desta investigação "o mais depressa possível". "Tenho de aguardar serenamente e esperar que não demore outros três anos e meio."
O antigo governante garante ainda estar de consciência tranquila. "Só raciocínios muito delirantes podem achar que numa videoconferência com 14 pessoas... parece um bocadinho inverosímil", afirma.
Questionado sobre se admite afastar-se da candidatura de Pedro Nuno Santos (de quem é apoiante) à liderança do PS, para que esta não seja contaminada pelo caso, rejeita para já qualquer compromisso desse género.
"Os nossos adversários ficam sempre satisfeitos em ver-nos nestas circunstâncias. Não deveriam, porque qualquer dia é com outro", atira.
Uma investigação do Ministério Público e da Polícia Judiciária levou, esta terça-feira, a buscas ao Instituto Português do Desporto e da Juventude, à Cruz Vermelha Portuguesa e ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge. As diligências, que abrangeram ainda as habitações do antigo secretário de Estado João Paulo Rebelo, estiveram relacionadas com "factos suscetíveis de constituir crimes de participação económica em negócio e de abuso de poderes, por titular de cargo político, bem como de usurpação de funções", de acordo com o Ministério Público.