Jogo desafia utilizadores a tornarem-se no "pior pesadelo das mulheres". APAV alerta para "normalização" de comportamentos
O jogo acabou ser retirado da plataforma Steam Portugal após uma onda de contestação. No Mercy desafia os utilizadores a “não aceitar um não como resposta”
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O jogo No Mercy, que desafia os utilizadores a tornarem-se no “pior pesadelo das mulheres” num universo de incesto e sexo não consensual, foi retirado da plataforma Steam Portugal após ter sido alvo de uma onda de contestação. À TSF, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) não esconde a preocupação.
“Tomámos a decisão de retirar o No Mercy da Steam”, lê-se num comunicado da Zerat Games, responsável pela criação disponibilizada na plataforma Steam, depois de, na quinta-feira, terem surgido várias notícias em Portugal sobre o jogo que desafia os utilizadores a “não aceitar um não como resposta”. Na nota, a Zerat Games refere ainda que "isto continua a ser apenas um jogo e, embora muitas pessoas estejam a tentar transformá-lo em algo mais, continua a ser e continuará a ser um jogo".
Em declarações à TSF, Daniel Cotrim, da direção da APAV, considera que “a existência destes jogos é sempre perniciosa e perversa”. "Termos empresas produtoras de conteúdo lúdico que tem por base a dominação masculina, o incesto e a violência sexual deve-nos deixar a todos preocupados", sublinha, questionando: "Para que têm servido as campanhas mundiais contra a violência contra as mulheres?”
Daniel Cotrim considera que “as pessoas não confundem a realidade da ficção” e que o problema está no facto de se trazer de “forma natural [estas temáticas] a um jogo”. “Estamos a normalizar este tipo de comportamentos e a continuar a normalizar este tipo de mensagens”, lamenta, sugerindo uma solução para combater o aparecimento de mais jogos deste género.
“Não podemos contar só com as vozes das pessoas que falam dos assuntos, temos de ser exigentes. É importante que estas empresas tenham conselhos éticos para corresponder a códigos de conduta que estejam de acordo com aquilo que são as normas dos direitos humanos legais dos países e das convenções internacionais", conclui.
Lembrando que o jogo já tinha sido bloqueado na Austrália, Canadá e Reino Unido, a Zerat diz que não tenciona “lutar contra o mundo inteiro” e que não quer causar problemas à Steam.
“Caro Mundo. Tem havido muito barulho sobre o jogo No Mercy. [...] Foram muitas vezes repetidas informações falsas sobre o conteúdo do jogo. As pessoas criaram vídeos e falaram com grande convicção de coisas que não estavam no jogo”, afirma a Zerat no comunicado.
A criadora do jogo refere ainda que, “infelizmente, muitas pessoas confundem ficção com realidade, criando histórias fabricadas em que as pessoas que jogam No Mercy saem para a rua e cometem atos vis”.
O Centro Nacional de Exploração Sexual dos Estados Unidos (NCOSE) pediu na quarta-feira a retirada global do videojogo No Mercy devido a conteúdos “perturbadores”.
O jogo estava na quinta-feira disponível na plataforma portuguesa, por 11,79 euros.
O NCOSE instou a Steam a removê-lo da sua plataforma, alertando que “promove violência sexual explícita, incesto, chantagem e dominação masculina, incentivando explicitamente os jogadores a se envolverem em atos não consensuais e comportamento misógino”.
“O jogo continua disponível globalmente, inclusive nos Estados Unidos, perpetuando a sua influência prejudicial sobre milhões de usuários, incluindo menores que podem facilmente burlar as medidas de verificação de idade”, lamentou.
