"Sem financiamento não toca a música", diz o antigo presidente da República, que avança que há pelo menos mais dois mil estudantes à espera de apoio da Plataforma de Apoio Global a Estudantes Sírios.
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Jorge Sampaio apela a mais financiamento para ajudar a trazer para Portugal mais estudantes sírios que, por estes dias, estão impedidos de continuar os estudos no país de origem. O antigo chefe de Estado, que dirige a Plataforma Global de Apoio a Estudantes Sírios, assinala que, enquanto não há tréguas nem paz na Síria, há milhares de estudantes com a vida em suspenso e a aguardar uma oportunidade.
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"Tenho lá dois mil pedidos para virem já amanhã, se for preciso, simplesmente não há fundos para isso, como é óbvio (...) Sem isso não toca a música, desculpe a expressão", afirmou o ex-presidente da República, Jorge Sampaio, que esteve, esta quarta-feira, juntamente com o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, numa receção a um grupo de 53 estudantes sírios que chegaram a Lisboa a 26 de maio e que, desde então, frequentam um curso intensivo de Língua Portuguesa na Academia Militar.
Até agora, salienta Jorge Sampaio, os casos de sucesso são vários, havendo já dezenas de estudantes sírios que conseguiram terminar os cursos em Portugal. "Desde os primeiros que vieram, 47 alunos já completaram os seus mestrados com excelentes notas. É uma experiência que tem resultado e que me tem enchido de felicidade, na medida em que vale a pena".
Um dos estudantes há cerca de um mês em Portugal é Mohamed, de tem 26 anos. Depois de crescer em Homs, morar em Damasco durante o ano passado e ter sido resgatado de Beirute, no Líbano - um transporte feito por um avião C-130 da Força Aérea Portuguesa -, Mohamed está hoje em Lisboa, a cidade onde, antes de regressar à Síria, quer prosseguir os estudos.
"Aprender a língua é um pouco difícil, mas tenho muitas expectativas. Sou médico, vou tentar especializar-me aqui. Mas o meu objetivo final é regressar a casa, obviamente que o farei apenas quando for seguro. Adoro Portugal, mas a Síria é um país lindo", conta-nos em inglês este estudante.
Outar das alunas a estudar ao abrigo da Plataforma Global de Apoio a Estudantes Sírios é Mjad, uma arquiteta de 25 anos que chega a Portugal para concluir o mestrado em Planeamento Urbano.
"É difícil ficar na Síria", confessa a antiga habitante de Homs, que nos adianta que veio para Portugal para "acabar os estudos e para ter um melhor ambiente". A língua é, para já, uma barreira, mas garante estar pronta para o desafio. "O português é uma língua com alguma musicalidade. Já sei dizer 'muito obrigado', 'muito prazer', 'como está'. Até há algumas palavras similares em árabe e em português", diz a estudante que é um dos exemplos pelos quais Jorge Sampaio defende que, apesar dos maus motivos trazem até cá estes jovens adultos, Portugal só tem a ganhar com o acolhimento destes e de outros estudantes.
"Se pudéssemos ter a possibilidade de escolher ter uma imigração conceituada e capaz tínhamos milhares de pessoas que podia, por exemplo, contribuir para encher os politécnicos, que estão à espera de alunos", afirma.
Pelo Governo, o ministro da Defesa, Azeredo Lopes, sublinha o empenho de Jorge Sampaio, mas também do Governo e das Forças Armadas na ajuda aos estudantes sírios: "Conseguimos ter uma influência direta na vida de dezenas de pessoas".