Jornalistas alertam: crise na comunicação social pode refletir-se na democracia
No dia em que os trabalhadores da Agência Lusa iniciam uma greve de quatro dias, na véspera da paralisação dos jornalistas do Público, e com a incerteza que reina na RTP, um grupo de jornalistas resolveu juntar as canetas numa carta aberta: "Pelo jornalismo, pela democracia". Uma das assinantes, Diana Andringa partilhou na TSF as preocupações que levaram a este alerta.
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«A crise que abala a maioria dos órgãos de informação em Portugal pode parecer aos mais desprevenidos uma mera questão laboral ou mesmo empresarial. Trata-se, contudo, de um problema mais largo e mais profundo, e que, ao afectar um sector estratégico, se reflecte de forma negativa e preocupante na organização da sociedade democrática (...)», começa assim o alerta de várias dezenas de profissionais e também alguns universitários.
Adelino Gomes, Óscar Mascarenhas e Diana Andringa são apenas três dos muitos veteranos e jornalistas que partilham esta inquietação. Em declarações à TSF, Diana Andringa revelou qual é a mensagem essencial que querem partilhar com leitores, ouvintes e espetadores.
«Sem jornalismo não há democracia. E na atual situação que vivemos, em que é preciso que os cidadãos estejam profundamente bem informados do que se passa, o jornalismo é mais indispensável do que nunca. [Mas] nesta mesma altura está a ser vítima de um ataque imenso a vários níveis: as redações tem estado a ser despovoadas; a memória das redações tem estado a ser afastada; e, a precariedade instala-se nos jornalistas», afirmou.
Por isso, acrescentou Diana Andringa, «é preciso que as populações percebam que os problemas dos jornalistas nunca são meramente problemas laborais, são problemas de liberdade de imprensa».
A crise afeta todos os sectores mas, na opinião de Diana Andringa, «provavelmente o que dificultou a relação dos jornais e das empresas de comunicação social com o público foi precisamente o descerem de qualidade em nome da economia, em nome de substituírem redações fortes por redações precárias, em nome de quererem cada vez mais trabalho feito em menos tempo quando o jornalismo exige tempo, reflexão, recursos».
«E à medida que foram tirando esses recursos obviamente vão se produzindo, provavelmente, produtos que já não têm tanto interesse para o público», admitiu Diana Andringa.
Por outro lado, «o jornalismo é sempre um serviço público, portanto não se podem criar jornais e depois fechá-los como se fosse uma fábrica de bolachas», defendeu.
Questionada sobre se acredita que esta carta seja bem acolhida pelos destinatários, quando muitos portugueses estão preocupados em pagar as despesas essenciais, Diana Andringa chamou a atenção para a importância dos media no apoio aos cidadãos, principalmente neste momento.
«As pessoas pensam 'o jornalismo é o menos importante','não me vou preocupar se compro um jornal ou não porque estou mais preocupado em saber se vou comprar o almoço', mas a verdade é que a longo prazo esse almoço também fica mais em perigo se o jornalismo for abaixo», alertou.
Nesse sentido, defendeu Diana Andringa, «é importante que o jornalismo, sobretudo neste momento, esteja a funcionar, esteja pujante e tenha condições para ser exercido».