Jovens marcham por Giovani. Amigos recordam noite que mais valia ser "um pesadelo"
A TSF falou com dois dos três amigos que estavam com Giovani na noite em que o jovem cabo-verdiano foi agredido em Bragança. A violência levou à morte do estudante, dez dias depois.
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No dia em que estão marcadas marchas nalgumas cidades do país em memória de Luís Giovani de 21 anos, o estudante Cabo-Verdiano que faleceu no passado dia 31 de dezembro, num hospital do Porto, onde esteve dez dias em coma depois de, alegadamente, ter sido espancado por um grupo de homens em Bragança, a TSF falou com dois dos três amigos, também cabo-verdianos, que viviam com ele e que o acompanhavam nessa noite fatídica. Dizem que era melhor que tivesse sido um pesadelo, porque passaria, mas o que viveram naquela noite, não lhes sai da memória.
Os quatro rapazes, alunos do Politécnico de Bragança, saíram de casa perto da meia-noite para festejar o fim das aulas, num bar da cidade. Tudo esteve normal até ao momento de pagar. Um dos quatro "falou com umas raparigas na fila", diz Jota (nome fictício) "e vieram dois gajos e começaram a empurra-lo e a arranjar confusão. Depois veio o segurança e ficou por aí", acrescenta.
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Na tentativa de evitar mais confusão o pessoal do bar pediu-lhes que esperassem um pouco, antes de saírem: "Disseram para a gente acalmar, deixar os gajos ir embora e depois para gente sair".
Assim fizeram, mas o que se seguiu não foi nada calmo, cerca de 50 metros à frente, na rua do outro lado do bar, tinham um grupo à espera. "Fomos surpreendidos com um grupo de menos pessoas e depois começou a aumentar cada vez mais. Foi aí que começaram a bater na gente. Tinham paus e cintos. Deram-nos murros e pontapés. Ao Giovani deram-lhe uma paulada na cabeça, depois caiu no chão e ficaram a bater nele. Depois conseguimos tirá-lo do chão e corremos e eles correram atrás da gente".
Por sorte, um carro patrulha terá passado nesse entretanto (num comunicado da PSP de Bragança é referido que alguém terá ligado para eles a dizer que haveria desacatos nesse local) e o grupo perseguidor desapareceu. Giovani começou a queixar-se com dores de cabeça e sentou-se no passeio. Manu, nome fictício, ficou com ele: "Sim, ele estava a queixar-se com dores de cabeça. Dissemos-lhe se ele queria ir ao hospital. Ele disse que não e eu fiquei lá com ele".
Entretanto, os outros dois voltaram ao local das agressões em busca duma carteira e de um telemóvel. Manu estranhando a demora dos dois amigos foi procurá-los. "Quando voltámos (o Giovani já tinha ido embora) encontrámo-lo (mais à frente), com dois polícias, inconsciente"
E nunca mais recuperou. Foi transportado para o hospital de Bragança e seguiu logo para o de Santo António, no Porto, onde esteve sempre em coma. Dez dias depois, Luís Giovani de 21 anos faleceu. Luís Vivia na mesma casa com Jota e Manu. Os três amigos tinham um grupo de música em Cabo Verde e queriam formar outro em Portugal. "Falávamos disso todos os dias, tocávamos juntos lá em casa. Queríamos montar uma banda, aqui, também mas pelo azar, não deu."
Dizem que nunca sentiram racismo, nem mesmo neste caso. Jota e Manu ainda não acreditam bem em tudo e preferiam que fosse um pesadelo: "Não vai ser fácil porque um pesadelo passa e isto não passa."