Laboratório de Hemodinâmica do Hospital de Guimarães pronto há um ano continua fechado
Obras de cerca de 2 milhões foram pagas por mecenas através de uma campanha da Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia que entretanto foi alvo de uma inspeção
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O Hospital de Guimarães dispõe de um novo laboratório de hemodinâmica, para a realização de cateterismos, pago por mecenas, que está pronto há um ano mas que continua fechado a aguardar autorização por parte do Ministério da Saúde, com os doentes a serem encaminhados para outros hospitais.
As obras de construção e o respetivo apetrechamento daquela nova Unidade de Diagnóstico e Intervenção Cardiológica (UDIC) foram suportadas integralmente pela Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia do Hospital Senhora da Oliveira (HSO) - Guimarães, que reuniu cerca de 2 milhões de euros, angariados através de campanhas e peditórios realizados desde 2015 junto de empresas e particulares que contribuíram com donativos.
"Juntou muita gente e só assim foi possível este grupo substituir-se ao Estado e fazer com que um serviço desta natureza e com este custo fosse instalado sem que o Estado gastasse um tostão", sublinhou César Machado, advogado da Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia do HSO, considerando "extraordinário" que o novo serviço "esteja parado há mais de um ano".
A maior surpresa, acrescenta o mesmo responsável, chegou há dias quando a Inspeção - Geral das Atividades em Saúde (IGAS) notificou a Liga dos Amigos do Serviço de Cardiologia do HSO de uma ação inspetiva aos donativos recebidos. "Essa é a parte que se percebe ainda menos", atira César Machado, questionando: "mas há suspeitas sobre a Liga? Seria mais razoável que houvesse uma ação inspetiva para saber por que é que aquele equipamento está parado e as pessoas continuam a ter que ir para Braga, Porto, Coimbra para fazer operações que podiam fazer aqui. Da parte da Liga não há nenhum receio".
A entrada em funcionamento daquele novo laboratório de hemodinâmica vai permitir, por exemplo, que os doentes coronários possam realizar cateterismos cardíacos e angioplastias no Hospital de Guimarães, evitando a deslocação para outros hospitais, com riscos aumentados para os doentes críticos e custos de transporte acrescidos.
Refira-se que em 2017 o serviço de cardiologia do Hospital de Guimarães enviou perto de mil cateterismos só da sua área de influência direta para outros hospitais, um número que não considera os doentes atendidos na unidade hospitalar vimaranense de concelhos vizinhos como Vila Nova de Famalicão, Trofa, Santo Tirso, Felgueiras e Celorico de Basto.
De acordo com a Rede de Referenciação Hospitalar, os doentes da região que precisem de cuidados na especialidade de Cardiologia de Intervenção e Diagnóstico são referenciados para o Hospital de Braga.
Questionada sobre os atrasos na abertura desta nova unidade do Hospital de Guimarães, a Administração Regional de Saúde justifica-se com a necessidade de "reorganização da Rede de Referenciação Hospitalar", após o fim da parceria público-privada do Hospital de Braga, que em setembro passou para a alçada do Serviço Nacional de Saúde.
"O contrato celebrado para a gestão do Hospital de Braga, até 1 de setembro a funcionar no regime de Parceria Público-Privada e, desde então na esfera pública, encontra-se em análise a reorganização da Rede. A atualização a decorrer permitirá decidir sobre o encaminhamento e receção de doentes na especialidade de Cardiologia de Intervenção e Diagnóstico", adianta a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte em nota enviada à TSF, sem adiantar mais detalhes nem se comprometer com quaisquer prazos para uma tomada de decisão.
A TSF questionou também a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) sobre a inspeção instaurada aos donativos recebidos, mas até agora não obteve resposta.