Lacerda Machado sentiu "pressão política" (mas não de Costa) e não exclui envolver-se na privatização da TAP
O ex-administrador da TAP disse que não exclui envolver-se no processo de privatização da TAP se achar que pode ser útil à empresa.
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O advogado e ex-administrador da TAP Diogo Lacerda Machado afirmou que sentiu pressão política quando foi administrador não executivo da TAP e, ao sublinhar que essa pressão não partiu do primeiro-ministro, de quem é amigo, deixou entender que foi pressionado pelo antigo ministro Pedro Nuno Santos, que na altura tutelava a TAP. Na comissão parlamentar de inquérito, onde está a ser ouvido, Lacerda Machado respondeu a uma pergunta do PS dizendo que se sentiu pressionado a propósito do orçamento da companhia.
"Algumas vezes, mas não passou disso. O primeiro-ministro jamais me pressionou. Posso-lhe dizer que houve uma circunstância em que nos foi pedido um certo sentido relativamente a uma coisa que não tem nada a ver com a política, na minha opinião, que era o orçamento da companhia. Expliquei que não faria aquilo que foi sugerido que fosse feito. Dir-lhe-ia que foi o momento mais agudo porque o orçamento de uma empresa como a TAP não é para fazer política", confessou Lacerda Machado.
Além disso, o ex-administrador da TAP disse que não exclui envolver-se no processo de privatização da TAP, se achar que pode ser útil à empresa, por exemplo com "alternativas àquilo que se tem perfilado".
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"Não estou envolvido em nenhuma entidade interessada, tenho sido procurado por várias - e já agora não vejo nenhum conflito de interesses -, não aceitei nenhuma das abordagens, [...] não excluo envolver-me se achar que posso ser útil à própria TAP", respondeu o advogado à deputada bloquista Mariana Mortágua, na comissão de inquérito à companhia aérea, questionado sobre um eventual envolvimento no processo de privatização da TAP que o Governo tem a intenção de levar a cabo.
Lacerda Machado detalhou que poderá ser útil, por exemplo, contribuindo com "algumas alternativas àquilo que se tem perfilado".
"Não estou certo e seguro se agora é tão bom como em 2020, [...] não estou tão certo nem seguro que aquilo que era muito bom em fevereiro de 2020, que esteve à beira de acontecer, [seja agora]", afirmou o ex-administrador não executivo.
Em 2020, antes da pandemia, noticiou-se que o grupo Lufthansa estaria interessado em comprar a TAP.
Na terça-feira, o ex-acionista Humberto Pedrosa confirmou que um negócio esteve perto de ser fechado em 2020 e que se a pandemia se tivesse atrasado mais um mês, provavelmente, teria sido concretizado, mas não confirmou tratar-se da Lufthansa.
Diogo Lacerda Machado sublinhou que "a TAP sozinha não consegue sobreviver muito mais tempo". "É dificílimo, está tudo consolidado, tudo junto, é um negócio de volume, escala, margens baixas", explicou.
Questionado se tem mantido conversas sobre a TAP com membros do Governo, o chamado 'melhor amigo' do primeiro-ministro disse que não fala com um membro do executivo sobre a companhia aérea desde 2021, quando deixou a empresa, e com António Costa não fala "desde o dia 09 de abril de 2020".