Dezenas de casos positivos do novo coronavírus foram registados numa Instituição Particular de Solidariedade Social, em Alverca, Vila Franca de Xira. Pode ser apenas o início de um pesadelo maior. Em desespero, a administração do lar pede a intervenção da autarquia. Quer o lar evacuado e as pessoas colocadas em segurança.
Corpo do artigo
A Associação de Assistência e Beneficência da Misericórdia de Alverca (AABMA), município de Vila Franca de Xira tem 51 pessoas infetadas (47 relativos a testes feitos na instituição, a que se juntam quatro casos anteriores, com testes realizados em contexto hospitalar) e, sabe a TSF, são apenas os primeiros resultados dos testes feitos aos cerca de 80 trabalhadores e 85 utentes.
Nenhum dos casos aparenta ser particularmente grave mas, de acordo com o presidente da administração do lar, João Gaspar Simões, quinze dos infetados "têm menos de 60 anos de idade", ou seja, são funcionários da instituição. Em declarações à TSF, o responsável da AABMA confirma o receio de o número de infetados poder ser "muito superior".
João Gaspar Simões adianta à TSF que a instituição vai receber nas próximas horas máscaras e outro equipamento de proteção individual, mas admite que é "extemporâneo". Trancas na porta depois de casa arrombada? "É verdade, é verdade."
Fonte hospitalar confirmou à TSF "a realização de 140 testes" a Covid-19 a utentes e profissionais do lar, afirmando que "qualquer utente a quem é testado positivo fica no hospital se tiver necessidade de cuidados de saúde, se forem assintomáticos fazem a quarentena nas suas habitações".
A administração da AABMA lamenta, em comunicado enviado à autarquia: "O Hospital de Vila Franca de Xira exigiu que uma das utentes que testou positivo voltasse para a AABMA, pese embora ainda não se conhecessem os resultados dos testes que foram realizados e sabendo, também, do esgotamento da nossa capacidade de salas de isolamento".
De acordo com informação do administrador João Gaspar Simões, não foram feitos "os testes para os utentes da nossa outra ERPI (Estrutura Residencial para Idosos) o lar da Senhora da Graça, que é "servida pelos mesmos recursos humanos e é contígua". A AABMA admitiu, numa carta ao presidente da autarquia, que "no decorrer do dia de ontem, foi confirmado que 2 (dois) outros utentes, hospitalizados por motivos não relacionados com Covid-19, testaram positivos".
Tudo terá sido sinalizado porque houve um utente enviado para o Hospital de Vila Franca de Xira com fratura numa perna (e não exibindo sintomas relacionados com o Covid-19), que testou positivo à doença. Isso fez acionar os testes ao lar, ao quais não tinham tido acesso, apesar dos pedidos; camara municipal e autoridade de saúde terão, ao que a TSF apurou, alegado falta de meios para os disponibilizar.
À TSF, o administrador do lar afirma que "esses 140 testes que foram feitos não nos permitem apurar neste momento quem é que está contaminado, já percebemos que o número é grande, nós temos as nossas salas de isolamento esgotadas e demos disso nota. Temos quatro utentes hospitalizados, se eles retornam para o lar, antes de sabermos qual é a população que está infetada, pode ser um grande problema". A AABMA tem conhecimento de locais que a autarquia terá, já vistoriados pelas autoridades de saúde, "prontos para receber pessoas".
A delegada de saúde está no local, é provável que o lar seja evacuado ainda hoje para se proceder à desinfeção, mas à hora desta publicação, ainda não há uma decisão. João Gaspar Simões afirma, em entrevista à TSF, que "urge que isso aconteça o mais rápido possível; e que as pessoas infetadas possam ser colocadas num local onde possam fazer a sua quarentena, sem que sejam enviadas para as suas casas, sob pena de infetarem os seus familiares, desde idosos a crianças". E deixa o alerta. "Temos um conjunto de pessoas infetadas a conviver num lar com pessoas que podem não estar infetadas."
O responsável da instituição, conhecida por Misericórdia de Alverca, sem qualquer ligação à Santa Casa da Misericórdia, afirma à TSF cumpria o seu plano de contingência face à pandemia, tendo equipas de trabalhadores a funcionar em rotação quinzenal. "Quando fizemos essa rotação, pedimos à Câmara que fossem feitos testes a essas pessoas que iam entrar. E esses testes não foram disponibilizados".
O primeiro caso de infeção foi verificado após cinco dias dessa rotação de equipas.