Estão a plantar de mais de um milhar de laranjeiras na União de Freguesias de S. Jorge e Ermelo, em Arcos de Valdevez, para preservar o fruto cultivado desde o século XIII por monges de Cister
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Doce, de casca lisa e fina, sem fibras e com poucas sementes. A laranja de Ermelo tem características únicas e foi esta terça-feira protagonista de uma plantação de 1355 laranjeiras em três hectares de terrenos baldios da União de Freguesias de S. Jorge e Ermelo, em Arcos de Valdevez. O objetivo da ação, apoiada pela Rede Elétrica Nacional (REN), é preservar aquele fruto, cultivado desde o século XIII por monges de Cister, num território com micro-clima, na zona da barragem de Touvedo.
Contou com a participação de cerca de uma centena de crianças das escolas locais, cujo entusiasmo a chuva que caía à hora marcada (cerca das 11h00 horas), não arrefeceu.
“Gosto da laranja. É muito boa. É uma delícia. Adoro. É mais docinha. É muito mais doce”, gritaram alguns alunos quando questionados sobre se gostam do fruto tradicional de Ermelo e que é colhido entre Fevereiro e Maio e vendido à porta pelo produtor a consumidores e intermediários.
“É uma experiência para eles perceberem a realidade e a diversidade do nosso concelho em relação, neste caso, à laranja de Ermelo. Muitos já conhecem porque são desta zona e sabem que é uma laranja com características próprias, mais doce que a laranja normal. Eles gostam mais desta e hoje provaram-ma de outras formas e gostaram”, contou o professor Pedro Martins, que acompanhou as crianças na sessão de prova, que antecedeu a plantação.
No local, os mais novos (e também os mais velhos) degustaram laranja ao natural e pratos criados pelo chef Álvaro Costa.
“Transformamos aquilo que é uma laranja extremamente doce e com um sabor incrível em pratos salgados: salada de laranja com alho, azeite, flor de sal e flores secas, e um pica-pau de galináceos, com perú, coelho, pato galinha, fumeiro, caldo de galinha, azeitonas e sumo de laranja”, contou o chef à TSF, enaltecendo as virtudes de um fruto que “não é bonito”. “A gente olha para ela e parece assim uma laranja tosca, mas esconde muito da potencialidade que tem lá dentro”, disse, defendendo que “tem de se dar a conhecer um produto destes e transformar a mentalidade do consumidor para adquirir não é o que é bonito, mas o que é saboroso”.
A cultura da laranja de Ermelo remonta ao século XIII e é atribuída ao saber dos monges de Cister, que à época geriam o mosteiro da aldeia. E a plantação de hoje, foi para garantir o seu futuro.
“A laranjeira de Ermelo tem uma ligação à nossa história e ao nosso território. Uma história longa de oito séculos e gostaríamos que ela durasse outros oito, pelo menos”, afirmou o autarca da União de Freguesias de S. Jorge e Ermelo, Horácio Cerqueira, acrescentando que “a ideia é criar condições para que se salve um produto que tende a desaparecer”.
Pedro Marques da REN, explicou que a plantação das árvores foi promovida no âmbito de “um programa de rearborização de faixas de servidão (faixas de terra que acompanham o percurso de linhas de transporte de eletricidade”, existente desde 2010 em todo o país. “Temos cerca de 35 mil hectares de faixas de servidão, 23 mil hectares em espaços florestais . É como se tivéssemos uma autoestrada entre Lisboa e a Arábia Saudita”, afirmou, referindo que atualmente a REN já tem “quatro mil hectares rearborizados”, com espécies como o medronheiro (a maioria), sobreiros, oliveiras e que, o novo desafio, foi apostar nas laranjeiras de Ermelo.
