Ministra "foi um bocadinho infeliz." Lares de idosos podem ser "calcanhar de Aquiles" no combate à Covid-19
Os lares de idosos criticam as declarações de Marta Temido, embora reconheçam a difícil tarefa que tem em mãos. O risco a que os idosos estão sujeitos é elevado, mas não há funcionários extra "em lado nenhum", defendem.
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Os mais de 30 utentes da residências sénior Pratinha, em Cavalões, Vila Nova de Famalicão, passaram a noite no hospital Militar do Porto. É lá que ficarão acolhidos, em isolamento, depois de terem estado em contacto com sete ou oito funcionários do lar, que estão infetados com o novo coronavírus.
Os restantes funcionários foram colocados em isolamento, pelo que os utentes deixaram de ter quem lhes ofereça cuidados. Os testes feitos no domingo, pelo INEM, ainda não têm resultados conhecidos, mas a ministra da Saúde deixou implícita uma crítica à organização das residências por não ter cumprido regras básicas condizentes com um plano de contingência. Para Marta Temido, a divisão da equipa de funcionários deveria ter sido assegurada.
No entanto, João Ferreira de Almeida, presidente da Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso, diz que "foi precipitado fazer aquelas declarações" e que a governante "foi um bocadinho infeliz", apesar de "a situação e a sobrecarga de trabalho não serem fáceis".
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"Eu não sei se o lar tinha, ou não tinha, plano de contingência. Quero crer que sim, mas também acho que a senhora ministra não sabia. Apesar de não saber, falou disso, e disse que os lares tinham a obrigação de ter pessoal de reserva para substituir quem ficasse incapacitado de ir trabalhar." Na perspetiva de João Ferreira de Almeida, as críticas não fazem sentido, uma vez que um conjunto de funcionários extra "não existe em lado nenhum".
O presidente da associação dos lares de idosos concorda que haja um "risco muito grande" associado a este tipo de espaços, "porque, mesmo com a proibição de visitas que todos estarão a fazer, há funcionárias que todos os dias se apresentam ao serviço" e "a grande maioria virá de transportes públicos, e só isso já constitui um risco muito grande".
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Face a esse risco tão elevado, João Ferreira de Almeida acredita no sentido de responsabilidade dos funcionários: "Penso que todos estarão a tentar minorar esse risco com medidas de higiene muito rigorosas."
Os lares de idosos podem mesmo ser o "calcanhar de Aquiles" no combate à Covid-19, refere João Ferreira de Almeida. Em Setúbal, o Lar do Professor terá pelo menos quatro casos confirmados de infeção: a médica da instituição, duas enfermeiras e um dos utentes.