Lata 65. Há 10 anos a desafiar os mais velhos a "fazer o que não é suposto"
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O projeto Lata 65 assinala este mês uma década. Desde 2012 o "Lata" mostra ao mundo que a idade é só um número. Nesse ano, a fundadora Lara Seixo Rodrigues passava para a mão dos idosos as primeiras latas de spray com o objetivo de aproximar pessoas com mais de 65 anos da arte urbana do grafíti.
Nesta década, o projeto já pôs cerca de 700 idosos a grafitar paredes entre Portugal, Espanha, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e Brasil. Mas mais do que as fronteiras geográficas o "Lata 65" quebra barreiras relacionadas com a idade.
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"É um projeto que desafia os idosos a fazer algo que não é suposto, mas que lhes dá uma nova vida", explica a arquiteta Lara Seixo Rodrigues.
Para assinalar este número redondo, a equipa do "Lata 65" reuniu uma dúzia de idosos em frente a mais uma parede branca. Foi o 58.º workshop de arte urbana em dez anos de vida, no NOW Coworking, no Beato.
A edição de aniversário reuniu antigos e novos alunos para mais uma aula. As lições do "Lata 65" são teórico-práticas. Primeiro conta-se a história da arte urbana, do grafíti e das técnicas a aplicar: o tag e o stencil. Depois, a turma escolhe o que quer deixar marcado na parede e constrói os stencils.
Aos 85 anos, Julieta Rocha pegou pela primeira vez numa lata de spray para recordar a infância.
"Desenhei a Julieta, desorganizada, com a sua malinha para ir para a fábrica, com os seus oito aninhos e fez-me rir. Achei graça imaginar-me naquela idade", relata Julieta.
Mas, neste projeto, a idade é só um número. Aos 74 anos, Gracinda é repetente na arte de pintar paredes. À TSF explica que o que realmente importa é o "estado de espírito".
"Eu não sou velha, nem quero que me chamem velha, aqui somos todos jovens. Velhos são os trapos que eu deito fora e muitas vezes dão jeitinho para fazer limpezas", sublinha a participante.
Quem também se juntou ao aniversário do "Lata" foi a antiga ministra da Cultura, Graça Fonseca, que veio "recordar o começo".
"Há dez anos eu era vereadora na Câmara Municipal de Lisboa, e este projeto também começou um bocadinho comigo. Quando o Lata 65 iniciou, a arte urbana, os grafíti eram questões muito discutidas na cidade de Lisboa. É um projeto de envolvimento incrível, que eu sempre acompanhei ao longo destes dez anos", realça a antiga ministra.
Está a ser preparado um livro para assinalar os dez anos de Lata 65, que compila testemunhos de participantes dos quatro cantos do mundo. O futuro é "continuar a desafiar a velhice com arte urbana" e vontade não lhes falta.
