"Lava a alma com aquele fogo." Tondela prepara queima de aranha gigante em espetáculo com 350 pessoas

Um boneco de uma aranha gigante, que lança teias e se alimenta de quem nelas fica preso, será queimado em Tondela no próximo dia 19 (sábado), durante um espetáculo comunitário que reunirá 350 participantes. O evento, promovido pelo Trigo Limpo teatro ACERT (Associação Cultural e Recreativa de Tondela), fará parte das celebrações da Queima e Rebentamento do Judas, uma tradição que ocorre no sábado do fim de semana da Páscoa. 

A queima simbólica, realizada através do fogo, visa purificar o mundo de todos os males, numa celebração que mistura arte, crítica social e humor. "Tentamos encontrar uma forma simples e eficaz, mas poética, de transmitir ao público a crítica acutilante sobre os males, para que, no final, nos consigamos rir", explicou o ator Pompeu José. O espetáculo coloca em cena um boneco, a aranha, acusada de representar todos os males e condenada ao fogo. 

A temática central do espetáculo será a globalização, descrita por Pompeu José como uma “teia” que une todos, mas que, segundo ele, também provoca o que chamou uma “globalienação”. "Temos de a saber usar não como uma prisão, mas como uma capacidade de união e de força", afirmou o ator. Durante a apresentação, uma metáfora que envolve mosquitos será explorada, com os insetos cientes de que serão devorados pela aranha e aceitam esta realidade. 

Realizado desde 1996, o espetáculo é precedido por oficinas de interpretação, movimento, música e construção cenográfica, que começam na próxima segunda-feira e esgotaram as inscrições em menos de três dias.  

"Visivelmente, para o público, estarão 350 pessoas em cena. Entre os participantes, 60 estarão dedicados à parte musical e 290 à representação. A ACERT não tem capacidade de funcionamento, de coordenação, nem de meios para mais", revelou Pompeu José.

A Queima do Judas, uma tradição emblemática em Tondela, é criada a partir do zero a cada ano, com o desenvolvimento do texto, dramaturgia, composição musical, cenografia, figurinos e até mesmo a preparação do fogo. Tudo isto é concebido e montado em apenas cinco dias, o que torna o espetáculo ainda mais único. 

Pompeu José contou que, para muitos, participar neste evento comunitário é uma experiência transformadora. "Quem participa nas oficinas e no espetáculo passa a perceber que é possível fazer em conjunto coisas grandiosas, que é possível construir um boneco gigantesco e oferecê-lo à comunidade queimando-o", afirmou. "Quer quem participa, quer quem assiste, lava mesmo a alma com aquele fogo", concluiu o ator. 

O espetáculo ocorre dia 19 de abril, em Tondela, mas as oficinas iniciam-se na próxima segunda-feira.