Lei da rolha no Chega. "É preciso disciplinar as pessoas" ou há um ataque à "liberdade dos militantes"?
A limitação daquilo que os membros do Chega podem publicar nas redes sociais e a aplicação de sanções a quem vai contra as diretrizes de Ventura nesta matéria merecem reações divergentes entre os membros do partido presentes no congresso.
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As querelas internas e as redes sociais enquanto espaço de confronto dentro do partido foram um dos temas dominantes, nas moções apresentadas neste segundo dia de congresso do Chega.
O assunto mereceu a atenção do presidente do partido, André Ventura, que na própria moção, frisou a necessidade de "ética e disciplina" dentro do partido, para que as redes sociais não sejam usadas para "lavar roupa suja". Uma prática que, segundo o líder do partido, prejudica o crescimento e a "boa imagem" do Chega. Só na última semana, foram suspensos pelo menos três membros do partido, que violaram a chamada "lei da rolha" imposta por Ventura, como confirmado pela Comissão Ética do Chega, na sua página oficial na internet.
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Mas, entre os delegados do partido presentes no congresso do Chega, a questão não é consensual.
Amélia Soares, delegada vinda de Viseu, apoia as medidas aplicadas pelo líder do partido: "Acho que [André Ventura] faz muito bem!", afirma, em declarações à TSF. "Temos de disciplinar as pessoas! Somos um partido com valores, defendemos a vida e a família, portanto, temos de ser um exemplo", defende.
Para esta apoiante do Chega, o partido deve, "tal como uma família, resolver os problemas em casa", e escusar-se do debate nas redes sociais.
Uma posição partilhada por Fernando Amorim, membro do Chega que vem de Santa Maria da Feira. Reconhecendo que as redes sociais têm desempenhado um papel importante para a divulgação dos ideais do partido, acredita, no entanto, que é necessário limitar a liberdade de que gozam aqueles que fazem delas uma má utilização.
"Penso que deveriam ser ainda mais rigorosas as sanções a aplicar aos membros que não cumprem as diretrizes do nosso partido", exalta Fernando Amorim.
"Estamos cá todos para defender a mesma causa, não estamos cá para andar em guerrilhas internas. Temos é de nos virar contra a oposição que é o nosso verdadeiro adversário", refere.
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Em cima do palco do congresso, esta manhã, para apresentar uma moção própria a condenar "o egocentrismo" nas redes sociais, que diz promover "quase criminalmente o insulto e a ameaça", Ana Margarida Passos frisou que "quem grita mais alto tem mais protagonismo, mas não necessariamente razão".
"Se começarmos aqui todos a ofender-nos mutuamente e internamente, que imagem é que nós passamos para fora, num partido que quer crescer?", questiona.
Ouvida pela TSF, reconhece, no entanto que as sanções aplicadas põem em causa a pluralidade dentro do partido.
Completamente contra o sancionamento de quem manifesta opiniões diferentes das da direção de Ventura é Ana Amaro da Fonseca, delegada que veio de Faro até Coimbra para o congresso.
"A tendência está a ser limitativa da opinião pessoal e própria de cada um e eu com isso não posso concordar", alega.
Para Ana Amaro da Fonseca, o Chega é um "partido plural", logo, "não pode impor esse determinado tipo de decisões", declara. "Se eu respeito a opinião alheia, têm de respeitar a minha. Não podem dizer: "Tens de te ir embora porque aqui não queremos esses que pensam assim!". Isso é que não", remata.
