Em Coimbra, a Escola Secundária Jaime Cortesão é a única na cidade a participar na iniciativa Saramago na Escola: Leituras Centenárias. Geralmente considerado um autor difícil pelos alunos, as docentes de português defendem ser importante promover o contacto com as obras do autor o mais cedo possível para desconstruir essa ideia.
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Margarida Almeida é aluna do 11.º ano e foi a escolhida para representar a Escola Secundária Jaime Cortesão, em Coimbra, nas leituras que marcam o centenário do nascimento de José Saramago.
A escolha da escola foi um excerto do Memorial do Convento. "Fala sobre o sonho das pessoas. Faz refletir a vida de cada um", explica a aluna.
Margarida sente-se confiante para a leitura e conta que tem vindo a a treinar a leitura em voz alta e para a parede. À pergunta quantas vezes por semana tem vindo a praticar a leitura responde que "é mais quantas vezes por dia", para rematar que o faz "umas três vezes, não muitas".
Mas para Elsa Campos, a professora de português de Margarida, mais do que a leitura, o importante da iniciativa é sentir o texto e despertar o interesse dos alunos em Saramago. "Disse sempre: a preocupação é que compreendas o texto, que te interesses pelo autor e que gostes. E depois passar a mensagem a todos os alunos da turma".
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José Saramago é de leitura obrigatória no 12.º ano e, na generalidade, considerado um autor difícil pelos alunos, sobretudo pela forma como usa a pontuação. Fernanda Conraria, professora de português, defende que, por isso, se deve começar "o quanto mais cedo melhor a desconstruir essa ideia". Essa foi também uma das razões que pesou na escolha de uma aluna de 11.º ano para as leituras de centenárias.
"Quando falamos a primeira vez de Saramago aos alunos, a primeira coisa que nos dizem é "aquele que não tem pontuação". Tem pontuação. Só tem é pontos finais e vírgulas, porque, como ele dizia, é uma música. E ele está a tocar uma música e a música tem pausas mais longas e pausas breves e não precisa de mais".
Ainda assim entre os alunos há quem não partilhe desta opinião. Para Mariana Simões, no 12.º ano, Saramago é um autor de "leitura muito fácil, porque os textos são muitos seguidos". "Quase não temos tempo para parar", diz.
Para uma aproximação a Saramago, Paula Salvador, considera que tem sido importante o trabalho da Fundação José Saramago. A professora bibliotecária observa que obras mais recentes do escritor como A Viagem do Elefante ou O Conto da Ilha Desconhecida, que eram menos conhecidas, "fazem parte dos livros que são requisitados". "Há uma aproximação muito maior e faz com aquela ideia de complexidade de Saramago tenha sido aliviada e, realmente, já é um autor próximo do público", remata.
Depois das leituras centenárias, na Escola Secundária Jaime Cortesão, Saramago dará mote para a iniciativa "Cegos que vendo não veem", a realizar em março. "Temos um colega com baixa visão e que aceitou o desafio de debater o tema da cegueira, até devido à obra Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago. (...) No fundo, vai tentar debater, espicaçar até os alunos, de modo a que percebam que, muitas vezes, a visão é muito mais do que o simples olhar", conta Paula Salvador.