Um livro e um LP propõem uma viagem pelas vidas dos pescadores portugueses no século XX. O projecto é lançado esta sexta-feira.
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Entoado pelos pescadores do Algarve, durante a faina, o leva-leva era um cântico de trabalho usado no século XX.
"Os cânticos são usados para estimular, motivar e coordenar o trabalho. Na verdade, é um cântico que se torna no motor, com uma função na prática do trabalho", explica Alan Marzo, da plataforma Flee, que apresenta esta sexta-feira "Leva-leva, ladaínha de pescadores", no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa.
A partir de gravações de arquivo, feitas pelo etnomusicólogo Michel Giacometti, em 1961, um grupo de investigadores e artistas portugueses e franceses procurou documentar a história dos pescadores, as suas dificuldades e condições de vida, bem como o encontro gradual com importantes mudanças económicas e políticas que afectaram o país nos anos de 1970.
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Da pesquisa de 18 meses, nasceu um livro e um disco, com gravações de arquivo originais e versões revisitadas por artistas e produtores contemporâneos.
"O livro é uma recolha de ensaios que se interessa pela história dos pescadores no Algarve, mas também pela história das suas mulheres, a condição social e evolução económica do Algarve", detalha Alan Marzo. "Ao nível do disco, temos três registos de arquivo. O primeiro de 1939, de Armando Leça. Outro registo de Michel Giacometti, feito em Portimão, em 1961, e finalmente, um registo de 1981, que é o último registo da Ladaínha de pescadores, do doutor Sardinha."
O representante da plataforma Flee confessa que ficou comovido com a vida das mulheres dos pescadores. "Não tinham qualquer direito. Eram chamadas apenas quando soava a campainha; quando os barcos regressavam, para porem o peixe em conserva. São mulheres que tinham uma vida muito difícil, com os filhos que traziam para o trabalho, até durante a noite. Foi uma história que me tocou muito", recorda Alan Marzo. "A segunda coisa que me tocou foi ver e compreender a transformação do Algarve, em tão pouco tempo. De uma economia baseada na pesca, tornou-se uma região com uma economia assente nos serviços e no turismo."
Alan Marzo defende que sejam desenvolvidos mais estudos sobre o que se perdeu na música e na cultura no Algarve, como turismo de massas. Para já, o Leva-leva promete uma viagem antropológica pela história e cultura portuguesas, com um mar de histórias e canções de trabalho.
O projecto é lançado esta sexta-feira, no MAAT, onde haverá um concerto no sábado, além de uma instalação artística, até ao fim do mês.
Na próxima semana, a Ladaínha dos pescadores chegará a museus de Setúbal, Portimão e Porto, que colaboraram na iniciativa.
A autora não escreve segundo as normas do novo acordo ortográfico