Crónicas de justiça de Rui Cardoso Martins. Relatos de vidas que se cruzam com o poder da lei, o braço da justiça e as circunstâncias de cada um. E quando se levanta o réu, é o juiz que decide
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Dra. juíza, o que é certo é que eu também o acuso da mesma coisa que ele me acusa. Fui difamada, fui agredida... Nós tivemos um relacionamento há 25 anos e voltámos a ter em Agosto de 2021, até Janeiro de 2022. Começou a pôr mulheres em casa dele. E depois dizia “tens de confiar em mim”. Ao fim, acabou na tentativa de suicídio da companheira dele... Ainda apareceu uma brasileira em casa dele... Depois, não atendia, tinha os números do telemóvel bloqueados e as redes sociais!
O que está em causa é que se diz que a senhora passava aos insultos e agressões várias, nos cafés chamava-lhe cobardolas, nojento, egoísta, predador. Estacionava mesmo à porta dele para o intimidar.
Dra. juíza, eu moro a cem metros dele. A rua onde páro é a minha! Temos 200 amigos em comum. Eu moro a cem metros dele e tenho o direito de estacionar ali! Sim, disse coisas irritadamente, porque tenho um leque de coisas que ele me fez a mim!
Disse “vou ao trabalho dele desgraçar-lhe a vida”?
Eu disse muitas coisas que não fiz, de cabeça quente. Tive quatro pneus rasgados, não furados, rasgados! Desde que ele tem aquilo a que chamou “botão de pânico”, aparecem-me sempre dois carros da polícia, oito agentes, uma mota, num bairro em que aparecem pessoas mortas a tiro, esses meios são todos para mim?!
Fazia questão de estacionar à frente da casa dele?
Aquele locais são fantásticos, agora até já nem se pode estacionar ali. Eu trabalho de dia, à tarde e à noite. Posso ter que sair e um lugar ali é bom.
Disse-lhe “merdolas, não vales nada”?
Não me lembro.
Atirou-lhe água para dentro de casa pela janela?
Foi sim senhora, depois de ele me ter atirado dois copos de água para dentro do meu carro!
Um dia no café disse-lhe em voz alta “és um merdas”?
Foi nesse dia que ele me bateu. Quando eu cheguei ao café estava a beber uma girafa, não era uma imperial, era uma girafa! “Então andas a antidepressivos e bebes um litro de cerveja?” Não gostou, agrediu-me e ofendeu a minha mãe.
Tinha um laser apontado à residência dele?
Sim, é verdade que usei. Foi um laser que me foi dado e os vizinhos tinham dito que eu incomodava com a campainha...
Atirou-lhe sacos de lixo para dentro de casa?
Ele é que mandou os sacos do lixo para dentro do meu carro e foram esses sacos que eu enviei pela janela dele. Maionese e cascas de camarão, foi o que mandei.
Também atirou excrementos e casca de banana?
Foi a resposta a ele cuspir, cuspir mesmo no meu pára-brisas. Fui à esquadra para fazerem a análise ADN do cuspo e não ligaram nenhuma! Ele conhece os polícias todos!
Disse-lhe “então agora andas com outra gaja, estás apaixonado?”
Foi quando ele meteu na casa uma brasileira e aquela com quem andava tentou suicidar-se ao saber que ele também andava comigo. Enquanto isto, andam mulheres a tentarem suicidar-se pelo mau carácter deste homem! Ele brinca com as mulheres, a irmã dele diz “ele come as minhas amigas todas”! Até de baixa ele fazia mega-festas em Melides! É uma vergonha, um funcionário público!
Lá fora, no átrio do tribunal, enquanto eu escutava a mulher, o funcionário público — a vítima — esperava incógnito, misturado com 10 testemunhas dele, uma equipa de futebol mista, a vizinhança toda. Meti na cabeça, vou descobrir quem é, só pode ser, sei lá, um Rudolfo Valentino. Olha, cabelo preto de alcaçuz lambido com ADN, baixo e dançarino, é este. O velhaco engordou, mas é um Valentino.
*O autor escreve de acordo com a anterior ortografia.
