Liga diz que descida de casos de cancro em 2022 resulta de atrasos da pandemia e avisa que "incidência está a aumentar"

Foto: Pedro Correia/Global Imagens (arquivo)
Na TSF, Vítor Veloso diz que "é preciso um bocado de atenção" relativamente aos números de 2022, porque "não correspondem à verdade". Avisa ainda que a "incidência do cancro está a aumentar"
O presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) afirmou esta segunda-feira que a descida de casos de cancro em 2022 reflete uma normalização estatística, após os atrasos nos diagnósticos provocados pela pandemia, alertando que a tendência é de aumento.
Os dados do Registo Oncológico Nacional (RON), esta segunda-feira divulgados, indicam que em 2022 foram registados 60.954 novos casos de cancro em Portugal, correspondendo a uma taxa de incidência de 579,6 casos por 100 mil habitantes.
Em declarações à TSF, o presidente da LPCC, Vítor Veloso, explicou que estes números vêm após a existência da Covid-19, o que significa que, provavelmente, durante esses anos anteriores teria havido dificuldades em fazer com que esses números se refletissem nesse período e, portanto, foram recrutados posteriormente ao ano que demonstra haver uma maior incidência".
"Agora há uma menor incidência, porque efetivamente já não é esse aglomerado de resultados que anteriormente foram resultados, provavelmente, de um registo tardio de incidência", disse.
Vítor Veloso sublinhou ainda que "a incidência do cancro está a aumentar tanto nos outros países, como em Portugal". "
"É preciso um bocado de atenção relativamente a esses números. Não correspondem à verdade."
Vítor Veloso apontou que o aumento de alguns tipos de cancro, em particular do cólon e reto, está relacionado com hábitos de vida pouco saudáveis, como alimentação inadequada, sedentarismo e consumo de álcool e tabaco além de um "sem número de fatores" que podem contribuir para o aparecimento deste tumor.
Apontou também "a ineficiência do rastreio do cólon e reto", que disse "funcionar muito mal, ao ralenti, sem estrutura adequada nem adesão suficiente".
"Lesões que eventualmente seriam pré-malignas e que seriam diagnosticadas atempadamente, devido à falta de rastreio não são detetadas e vão continuar a existir e vão promover cancros, o que não aconteceria se houvesse um rastreio devidamente adequado", defendeu.
Uma situação que disse não acontecer, por exemplo, com o rastreio do cancro da mama, a cargo da LPCC, que funciona "bastante bem" e serve de exemplo de eficácia na deteção precoce.
Já em declarações à agência Lusa e relativamente à maior incidência da doença nos homens, Vítor Veloso atribuiu o fenómeno à menor procura de cuidados médicos e à prevalência de hábitos alcoólicos e tabágicos mais visíveis no sexo masculino.
"O homem tem muito mais displicência em ir ao médico e normalmente ignora os sintomas, a mulher é mais cuidadosa", comentou.
O presidente da LPCC sublinhou a importância de campanhas de sensibilização para incentivar a população a aderir aos rastreios, salientando que apenas através da informação e da educação é possível atingir uma adesão adequada, entre 60% e 70%.
Face ao envelhecimento da população e à escassez de profissionais de saúde, o responsável alertou para a incapacidade do Serviço Nacional de Saúde em responder à crescente procura, defendendo que o SNS tem de sofrer "uma reestruturação adequada, profunda" para dar reposta às necessidades da população.
De acordo com um resumo do RON a que a Lusa teve acesso, os tumores mais frequentemente diagnosticados em 2022 foram os da mama, colorretal, próstata, pulmão e pele não-melanoma.
O grupo etário dos 80 aos 84 anos apresentou a taxa de incidência mais elevada, com 1.645 casos por 100 mil habitantes.

