A estratégia de recuperação do lince ibérico tem sido um sucesso, de tal forma que os novos casais começam a precisar de "casas novas". O ICNF está a trabalhar com as autarquias de Penamacor e de Sabugal para devolverem a espécie à Serra da Malcata
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O sítio é perfeito. A Reserva Natural da Serra da Malcata fica entre Penamacor e Sabugal, ali mesmo encostada a Espanha. Tão perfeito que no princípio do século avistou-se aquela que seria a última exemplar da espécie para aqueles lados.
É preciso puxar pela memória de Carlos Albuquerque. "Lembro-me que em 2003, 2004 foi a captura da Xara, já era um animal errante. Desde então temos uma fêmea de lince que vai aparecendo e desaparecendo, mas é uma ocorrência, não está lá."
O diretor do Departamento de Conservação da Natureza e Biodiversidade do ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e Florestas), Carlos Albuquerque, afirma que a "breve prazo" o lince há-de voltar à Malcata.
Os linces são agora quase 300 em Portugal e mais de 2000 na Península Ibérica. À medida que a população cresce precisam de mais espaço, de novos espaços. "Cada vez que libertamos um animal dos centros de reprodução ainda é uma festa, sobretudo para as crianças das escolas que vão assistir. Mas já há muitos videos nas redes sociais de pessoas que conseguem imagens de linces em liberdade", já estão quase todos em liberdade.
Na Serra da Malcata espera-se que a prazo também seja possível tê-los na natureza, sem limites, mas por agora será preciso construir alguns cercados e, sobretudo, garantir que não passam fome e que podem ter ali o seu petisco preferido. "É preciso estimular a população de coelhos bravos, também eles estão a regressar."
Serviu para preparar esse terreno a recente reunião do ICNF e os autarcas de Sabugal e de Penamacor. Igualmente importante é garantir que há sã convivência entre os linces, os caçadores, os criadores de gado e os agricultores.
"A convivência pode ser útil para todos", confia Carlos Albuquerque. "Os criadores de gado e os agricultores, por exemplo, podem conseguir apoios de fundos comunitários que não teriam se não houvesse lobos ou linces." Também podem ter cães devidamente treinados e cercas proprias para os animais para evitar perigos. Quanto aos caçadores, parece que "os linces preferem os animais mais frágeis, mais velhos e menos saudáveis que são mais fáceis de caçar".
É tudo uma questão de saber o que fazer e como. É, sobretudo, segundo este técnico do ICNF, "uma questão de nos sentarmos e conversarmos, em vez de mandarmos recados pela comunicação social".