Má alimentação, falta de higiene e sobrelotação. Padre do EPL revela queixas dos reclusos
Em entrevista à TSF, o capelão do Estabelecimento Prisional de Lisboa lamenta que a sociedade tenda a esquecer os presos e os problemas que se vivem nas cadeias.
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Todas as semanas o padre João Nogueira cruza os muros do Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL). Capelão da prisão há vários anos, conhece bem as condições de quem lá vive e não ficou surpreendido com o motim. "As bolhas vão crescendo e depois rebentam. Há um acontecimento que faz com que o processo se desenvolva", diz.
O sacerdote lembra que os problemas dentro do estabelecimento têm sempre maior impacto do que no mundo exterior e admite que ouve muitas queixas dos reclusos: "Desde a alimentação, às condições de higiene, à falta de produtos. Num espaço fechado, aquilo que pode, para nós, ser um problema perfeitamente integrável e de resolução fácil, quando se está privado de liberdade não é assim que acontece."
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A falta de medicamentos, a sobrelotação do estabelecimento e a demora nas visitas também geram críticas e descontentamento entre os reclusos.
Além da falta de condições, mais evidente em alturas de greve, o padre diz que é preciso pensar o futuro de quem está preso: "Nós, como cidadãos livres, refletimos muito pouco sobre a realidade prisional. Porque não dá jeito, porque não interessa.
O padre João Nogueira, que esta quinta-feira prepara as celebrações de Natal com os reclusos do EPL, apela à preocupação com a reabilitação dos reclusos. "É uma sociedade dita democrática, a partir dos seus tribunais condena os homens e as mulheres, mas depois também ninguém se interessa como é que vai ser a reabilitação. Como é que um homem condenado para a vida toda se vai inserir socialmente?", questiona.