Os municípios transmontanos de Macedo de Cavaleiros e de Vinhais, no distrito de Bragança, querem que o governo inclua, no Plano Nacional de Investimentos 2030, uma estrada que ligue Macedo à localidade espanhola da Gudiña, na Galiza, passando por Vinhais.
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Justificam a necessidade da via com a coesão territorial ibérica, com uma ligação à Galiza a partir do interior norte de Portugal, que não existe, e que beneficiaria não só as pessoas mas, principalmente, as mercadorias. Do outro lado da fronteira, na Gudiña, está uma estação do AVE, TGV espanhol, e a autoestrada das Rias Baxas que liga Madrid à Galiza.
A pretensão destes três municípios já leva cerca de três anos. Benjamim Rodrigues, presidente de Macedo, eleito pelo PS, não entende a não-inclusão da estrada no Plano de Investimentos do Governo, quando é o próprio Governo a querer ligar as regiões de fronteira aos grandes mercados espanhóis e à Europa.
"Neste momento em que veio a público o ministro das Infraestruturas defender que a nossa prioridade é a ligação Lisboa-Porto-Galiza, em termos ferroviários, faz todo o sentido em termos rodoviários, porque nos dá o privilégio de ligar a uma plataforma logística de grande envergadura, é a maior do noroeste peninsular, e nos permite o acesso ao transporte de alta velocidade espanhol (AVE)", afirma.
O autarca socialista diz que esta estrada não colide em nada com a ligação Bragança-Puebla da Sanabria, há muito pretendida pelos transmontanos e já anunciada pelo próprio primeiro-ministro, António Costa, porque esta ligaria a outra parte de Espanha. "Temos já ligações a Castela e Leon, mas não temos ligações à Galiza. Seria uma ligação privilegiada às ditas portas da Galiza."
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Luís Fernandes, o também socialista presidente da Câmara de Vinhais, afirma, apontando aos milhões que chegarão de Bruxelas, ser a altura certa para fazer a ligação, porque poderá não haver mais oportunidades. "É essencial, tendo em conta o contexto da ligação à estação do AVE e à potencialidade que tem a região da Galiza em termos económicos. Será aqui uma forma de aproveitar essas potencialidades, porque se não poderá ser desperdiçada e nunca mais ser possível uma articulação que permita um grande aproveitamento económico da região."
Do lado de lá, as coisas parecem estar mais adiantadas. Há cerca de um mês, a Junta da Galiza fez seguir um documento para o governo espanhol, assinado por 17 municípios, dando conta da mais-valia da estrada para a eurorregião Galiza-Norte de Portugal. O documento foi assinado por todos os partidos da esquerda à direita.
José Maria Lago, presidente do município espanhol da Gudiña, diz que é tudo uma questão política e que a ligação deveria ser uma prioridade dos dois governos. "É uma luta política. Entendo que ainda estamos a tempo porque é uma grande oportunidade, com os fundos europeus que aí vêm, e deve ser um objetivo prioritário, tanto para o Estado português como para o Estado espanhol e para a Xunta da Galizia."
Lago acrescenta que a junta da Galiza não ficou satisfeita por causa do projeto ter sido retirado da discussão da última cimeira ibérica na Guarda e reafirma a ideia de que a estrada em muito contribuiria para desenvolver as zonas mais despovoadas de Portugal e Espanha, por causa do TGV e não só.
"Uma ligação que está a hora e meia de Madrid, com ligações de voos internacionais, com o caminho de Santiago aqui ao pé, com os parques naturais de Portugal, com a região do Alto Douro, creio que é uma estrada para trazer turismo de qualidade, turismo de interior e empresas que se queiram fixar aqui", defende.
Na cabeça dos autarcas portugueses e espanhóis está uma via de cerca de 90 quilómetros que entroncaria no IP2 português e na Autoestrada Transmontana em Macedo e, em linha reta, passaria por Vinhais ate à localidade espanhola da Gudiña.