Machete: «Não usei informação secreta ou privilegiada» sobre portugueses no Estado Islâmico
O ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou hoje no parlamento que não usou qualquer informação «secreta ou privilegiada» sobre a participação de portugueses no movimento radical Estado Islâmico e reiterou não ter ameaçado a segurança nacional nem dos cidadãos.
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«Não usei qualquer informação secreta ou privilegiada» na entrevista à Rádio Renascença no passado dia 21, disse Rui Machete durante uma audição na comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros e Comunidades. Nessa entrevista, o ministro disse que existem entre 12 a 15 portugueses a combater nas fileiras do autoproclamado Estado Islâmico (EI) e que dois ou três cidadãos, principalmente raparigas, querem regressar a Portugal.
Sobre «o número e composição dos portugueses que fazem parte do ISIS [Estado Islâmico do Iraque e da Síria, na sigla em inglês], essas questões têm vindo a ser publicadas abundantemente nos jornais», disse, acrescentando: «Não tive nada a aprender com outras fontes de informação, que aliás não utilizei».
Na audição parlamentar, a pedido do PS, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros considerou ainda que a sua referência a «duas ou três mulheres» não teve «qualquer intuito de identificação». «Não considero que nenhuma das minhas declarações tenha posto o Estado português em risco», sublinhou.
Antes, o deputado socialista Marcos Perestrello afirmou que as declarações de Machete, na entrevista, são «suscetíveis de pôr em causa a segurança de pessoas e a segurança nacional» e pediu um comentário do governante à recusa do ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, em comentar o que disse ser «esta ou qualquer outra matéria classificada». O chefe da diplomacia portuguesa afirmou que não trocou impressões com o seu colega do Governo «nem antes nem depois» da entrevista.
Perestrello colocou várias perguntas ao ministro, entre as quais sobre como teve acesso à informação sobre os portugueses, se considera que o Estado Islâmico é uma organização terrorista e se conhece «as ameaças de morte e maus-tratos» infligidos a elementos que pertencem abandonar este movimento radical. Na resposta, Rui Machete disse estar preparado para falar da participação de Portugal no «esforço internacional de combate» ao EI e não para responder ao que classificou de «inquérito policial».
Durante a audição, o ministro reiterou a necessidade de alertar a opinião pública portuguesa e, em particular os mais jovens, para «os riscos enormes de embarcarem numa aventura criminal» ao viajarem para o Iraque ou Síria com o objetivo de combater ao lado desta organização, cuja «perigosidade é indiscutível».
Pelo PSD, António Rodrigues criticou o que disse ser referências «românticas ou místicas» sobre este grupo e perguntou: «Numa questão de Estado, de que lado está o PS - está preocupado com os jihadistas ou com a segurança dos portugueses?», lembrando que o EI já manifestou ambições de se espalhar por vários países, incluindo Portugal.
Também o ministro criticou a postura do PS, acusando o deputado Marcos Perestrello de utilizar uma «tática que não está à altura do tema» nem da «capacidade e dos cargos que já exerceu» o antigo secretário de Estado da Defesa do governo de José Sócrates.
Também Filipe Lobo d'Ávila (CDS-PP) acusou o PS de deturpar as declarações do ministro Miguel Macedo, por «uma lógica meramente partidária». Na resposta, o deputado socialista repudiou a «tentativa de desconsideração da discussão, atribuindo a questões político-partidárias», questionando se tal «não corresponderá a algum preconceito quanto à atuação dos partidos, que são essenciais à democracia».
Por outro lado, Perestrello considerou que Rui Machete, como chefe da diplomacia, «sabe que não pode falar com base no que lê nos jornais».
A deputada comunista Carla Cruz afirmou que os problemas que hoje se vivem no Iraque e na Síria são «indissociáveis da ingerência que os Estados Unidos e aliados fizeram» nestes países.