70 mulheres da Apelação e da Quinta da Fonte, em Loures, estão a construir uma árvore de Natal em crochet, com 17 metros de altura. É candidata ao recorde no livro do Guiness.
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Agulha na mão, novelos de lã amontoados, quase todas de óculos, 15 mulheres passam a noite a fazer quadrados de crochet na sala da assembleia de freguesia da Apelação, no concelho de Loures. Tem sido assim, todas as noites, desde Maio, quando nasceu o projecto social de construir uma árvore de Natal em crochet. A coordenadora Catarina Canelas, que é também tesoureira da Associação Moradores Unidos da Apelação (AMUA), confessa que ninguém esperava a resposta da população, quando o desafio foi lançado. O projecto de inclusão pretendia trazer as mulheres mais velhas para a rua, depois de dois anos de confinamento devido à pandemia, mas a reacção "excedeu todas as expectativas". Todos os dias chegavam mais mulheres, de todas as idades. São agora, 70 mulheres, dos 11 aos 88 anos.
A presidente da AMUA, Aida Marrano, destaca a multiculturalidade do projecto, que junta a população mais envelhecida da Apelação ao bairro social da Quinta da Fonte, de onde chegam "ciganos, africanos". Cria-se assim uma "ponte" entre grupos outrora antagonistas.
A ideia inicial, de construir uma árvore de três a quatro metros, evoluiu para os 17 metros de altura, cerca de 7200 quadrados, e o desafio de inscrever a árvore de Natal em crochet no livro de recordes do Guiness.
Uma das voluntárias, Dora Gomes, conta que ensinou algumas mulheres a fazer crochet e hoje, "fazem que se desunham". É o caso de Susana Guilherme, que nem sequer é da Apelação, embora tenha casado com um "rapaz" da terra. Não sabia tricotar, mas "disfarço bem" o crochet, assume bem disposta, frisando que este projecto "veio unir a família", já que teve lições com a mãe e a tia.
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Entre as mais velhas, Belmira Nunes, 86 anos, lembra que não fazia muito crochet, "porque não havia dinheiro para comprar linhas". Agora, já fez centenas de quadrados ao lado da filha Lurdes, que a traz para estes encontros na Apelação. "É uma forma de fazer algo diferente, sem ser a ver televisão", afirma, apontando também para uma mesa onde está um bolo, o vinho do Porto e o chá. Há sempre um "petiscozinho temperado e regado", nota entre gargalhadas das outras voluntárias.
Dora Gomes descreve ementas de outros serões: torta, broas, pastel de Nata, mas o que nunca pode faltar é o vinho do Porto, até porque têm "um pretexto para brindar todos os dias". Nestas noites de convívio, contam histórias, trocam experiências e desabafos. "Já passámos aqui muita coisa: nascimentos, pessoas que faleceram. Somos uma família, todas boas raparigas", admite, "rimos muito, fazemos quadrados enquanto rimos".
Laura Reis, apontada como a grande apreciadora do vinho do Porto - "ela só vem pelo vinho do Porto", troça Dora - nem quer pensar quando o projecto terminar. "Adoro, vivo sozinha" e depois de uma sessão de crochet, "cada uma de nós vai daqui com mais saúde", realça. "Ninguém quer ir para casa", acrescenta Catarina Canelas, que está constantemente a ser desafiada para criar mais um projecto. Com a adesão inesperada à árvore de Natal em crochet, nasceu uma dificuldade para a AMUA. Os custos do projecto dispararam. Só em lã, a associação gastou cerca de 2500 euros e o aluguer da estrutura de metal que irá suportar a árvore de crochet está orçado em 12500 euros.
Já com mais de 9 mil quadrados de crochet prontos, as mulheres trabalham agora em pequenas lembranças, como porta-chaves e brincos, que pretendem vender a preço simbólico, para financiar o projecto. No domingo, 13 de Novembro, a AMUA organiza uma Feira de Sopas, na Igreja da Apelação, com um "rodízio de sopas", incluindo também pão, fruta, sumos e castanhas, para assinalar o Magusto. A entrada de cinco euros reverterá para a árvore de Natal em crochet, com inauguração marcada para dia 3 de Dezembro.
A autora escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico