"Maior demolição de que há memória." Entre muita tensão, vão ser destruídas 80 barracas em Loures e Amadora
O movimento Vida Justa avisa na TSF que as demolições, marcadas para esta segunda-feira, deixam famílias, incluindo mais de 60 crianças, sem casa. A autarquia da Amadora assegura que estas pessoas vão ser alojadas. Já a de Loures fala em "tolerância zero" para situações que violem o ordenamento do território
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A PSP e as equipas de demolição chegaram, esta segunda-feira de manhã, a Loures e à Amadora para demolir 80 barracas. Esta ação vai afetar famílias, incluindo mais de 60 crianças. Gonçalo Filipe, do Movimento Vida Justa, diz à TSF que estas habitações foram construídas pelos próprios moradores por não terem possibilidades de pagarem uma renda.
"Estamos a falar de municípios que deixaram de apostar numa forte componente em habitação pública, em habitação acessível. As casas começaram a ficar mais caras para a classe média e estas pessoas — que têm salários mais baixos, mas que, na sua larga maioria, trabalham — tiveram que construir barracas para poderem viver, tal como acontecia nos anos 1970 e 1980 em Portugal", afirma o ativista, acusando as autarquias de não darem uma alternativa às pessoas.
"O que está a acontecer é que estas câmaras estão a ter esta postura agressiva de demolição e de tentar afastar estas pessoas do município sem qualquer solução alternativa. E as pessoas vieram falar connosco porque sabem que a Vida Justa é um movimento que atua muito sobre a habitação e sobre estas injustiças que vão acontecendo", adianta. "Hoje vai acontecer o maior despejo e a maior demolição de que há memória, pelo menos em relação a estes bairros. São mais de 60 crianças que vão ficar desalojadas hoje. É um terror."
No total, são 60 barracas que estão na zona do Catujal, em Loures, e 20 na Estrada Militar, na Amadora. Os ativistas do movimento Vida Justa estão no terreno, esta segunda-feira de manhã, para tentar impedir estas demolições.
Mais de uma dezena de elementos da Equipa de Intervenção Rápida da PSP está esta segunda-feira a afastar à força moradores do bairro autoconstruído do Talude Militar, em Loures, onde estão previstas demolições de casas, constatou a Lusa no local. O clima está muito tenso entre a polícia e várias dezenas de moradores, entre homens, mulheres e crianças, que gritam por "outra solução" e pedem uma reunião com o presidente da Câmara de Loures, Ricardo Leão. Segundo o movimento Visa Justa e advogados no local, esta operação está a ser executada sem mandado judicial. Entretanto, pelas 11h20, alguns moradores deitaram-se no chão à entrada do bairro, tentando impedir o avanço dos veículos mobilizados para as demolições.
Em declarações à TSF, a vereadora da Câmara Municipal da Amadora, Ana Venâncio, garante que estas famílias vão ter onde morar.
"No terreno também estão equipas da divisão de intervenção social. As pessoas foram sendo notificadas, nas diversas fiscalizações que fizemos desde dezembro do ano passado, que se deviam dirigir aos serviços de intervenção social para encontrarmos em conjunto uma solução. Não temos, até à data, nenhuma tentativa de contacto e, portanto, acionaremos aí os meios que estão à nossa disposição no sentido de [encontrar] uma solução de emergência para estas pessoas, no caso delas não terem uma alternativa onde ficarem."
Questionada a que meios se refere, a vereadora esclarece que se tratam de meios de segurança social que estão à disposição e que "serão acionados, seja na dormida ou em pensões, ou em hotéis, ou em casas que estão preparadas para o efeito", caso estas famílias não tenham para onde ir.
Por sua vez, em comunicado enviado à TSF, a Câmara de Loures confirma a demolição de 65 construções ilegais no Talude Militar, no âmbito da sua política de combate à ocupação ilegal do território. A nota acrescenta que 56 dessas construções eram ocupadas por 103 adultos e 58 menores, sendo que 43% dos agregados identificados têm morada fora do concelho de Loures. Em nove casos, não foi possível recolher a identificação das famílias.
A autarquia reitera que não permitirá a proliferação de mais construções ilegais no concelho, mantendo uma política de tolerância zero para situações que violem o ordenamento do território e coloquem em risco a segurança e a saúde públicas. O município reafirma que está disponível para colaborar com todos os que procurem soluções legais e seguras, mas não aceitará a edificação descontrolada de barracas.
