Estes pequenos moluscos estão "criticamente" ameaçados devido à erosão do habitat, predação (sobretudo por ratos) e seca
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Mais de 1300 caracóis das Ilhas Desertas do arquipélago da Madeira foram reintroduzidos no seu habitat, anunciou este sábado o Zoológico de Chester, no Reino Unido, onde foram criados.
Os caracóis, do tamanho de ervilhas, pertencem a duas espécies diferentes, ambas "criticamente ameaçadas", segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
Nativos da Ilha Deserta Grande (a maior ilha do desabitado arquipélago das Ilhas Desertas, a sudeste da Madeira), estes pequenos moluscos estão ameaçados pela erosão do habitat, predação (sobretudo por ratos) e seca.
O biólogo do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas Dinarte Teixeira sublinha a importância desta espécie de caracóis.
"Eram espécies que não eram vistas há mais de 150 anos. As espécies de caracóis das Ilhas Desertas, que são exclusivas dessa área, são excelentes casos de estudo porque são animais que se movem muito pouco e, ainda por cima, fazem autofecundação", aponta, em declarações à TSF.
Para que estes animais possam prosperar com sucesso, foram retidas deste habitat todos "os elementos nefastos" do seu ecossistema, como são exemplos as cabras, ratos e coelhos.
"Nesta fase, o ecossistema recuperou por si mesmo, daí que tenhamos iniciamos esta primeira tentativa de reintrodução destes animais na ilha do Bugio", explica.
Em todos os caracóis, foram colocados pontos de identificação, que permitirão localizá-los e acompanhar o seu crescimento e adaptação ao novo ambiente.
"Quando os reintroduzimos, nós marcamos os animais. Dividimo-los em três populações, colocadas de forma estratégica com base no conhecimento que nós temos dos requisitos ecológicos que estas espécies precisam para sobreviverem: não só a altitude, a direção e a inclinação do próprio terreno. Tudo isso foi tido em conta quando criamos estas três populações", destaca.
A reintrodução dos caracóis nas ilhas desertas vai ser avaliada no próximo ano. Se for bem sucedida, podem ser libertados mais caracóis desta espécie única, num projeto envolve autoridades britânicas e francesas e que já permitiu a criação de cerca de 15 mil caracóis, na última década.
Uma série de expedições de conservação entre 2012 e 2017 permitiu criar um programa de conservação, tendo sido descoberta uma pequena população de caracóis sobreviventes nas falésias rochosas da ilha Deserta Grande que foi decisiva.
Dos 200 caracóis descobertos por especialistas do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) da Madeira, cerca de 60 foram enviados para o Zoológico de Chester, no norte de Inglaterra.
"Quando os caracóis chegaram a Chester, o próprio futuro da espécie estava nas nossas mãos. Foi uma responsabilidade enorme", recordou Gerardo Garcia, do Chester Zoo, citado em comunicado.
"Não sabíamos nada sobre eles. Nunca tinham sido cuidados por humanos antes e tivemos que começar do zero para tentar entender o que os motiva", acrescenta.
O Zoológico de Bristol, também no Reino Unido, e o Zoológico de Beauval, em França, também participaram nos esforços de conservação, que resultaram, para já na introdução de 1329 caracóis criados em Chester no Bugio, uma das ilhas do arquipélago.
