Mais de 30% dos portugueses não vão ao dentista ou só vão em caso de urgência
Dos que nunca vão ao dentista ou só vão em caso de necessidade, mais de um em cada cinco (22,8%) alega não ter capacidade financeira. "Há 59% de portugueses que não sabem que o Serviço Nacional de Saúde disponibiliza a área de medicina dentária."
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Mais de 30% dos portugueses não vão ao dentista ou só o fazem em caso de urgência e quase 10% não tem qualquer dente, segundo o Barómetro da Saúde Oral de 2019.
De acordo com os dados a que a Lusa teve acesso, há 6,8% de portugueses que nunca vão a consultas de medicina dentária e 24,8% que só vão em caso de urgência, dados que se têm mantido inalterados desde que o barómetro começou a ser feito, em 2014.
Segundo o barómetro, que vai ser apresentado na sexta-feira no Congresso da Ordem dos Médicos Dentistas, dos que nunca vão ao dentista ou só vão em caso de necessidade, mais de um em cada cinco (22,8%) alega não ter capacidade financeira, um valor que, contudo, baixou relativamente ao ano passado.
Dos inquiridos, 87,4% disseram ter mantido o número de idas ao dentista em 8,4% dos casos aumentaram. Apenas 4,1% revelaram ter diminuído a frequência destas consultas, um valor que baixou relativamente ao ano passado (7,2%).
Mais de um em cada três portugueses (35,7%) não vai ao dentista há mais de um ano, e mais de metade nunca mudou de médico dentista. "Ainda que os resultados mostrem que os portugueses estão a ir ao médico dentista com maior regularidade, não são novos doentes, são doentes habituais que aumentaram a regularidade das visitas aos consultórios de medicina dentária", refere o barómetro.
O documento diz ainda que este aumento "pode ser explicado pela subida de pacientes com seguros ou planos de saúde", que em 2014 eram apenas 4% e agora já chegam aos 15%.
Se quando o barómetro começou a ser elaborado quase três em cada quatro (72%) dos inquiridos consideravam a medicina dentária uma área mais cara do que as outras áreas da saúde, nesta edição o número caiu para pouco mais de metade (54%).
De acordo com Orlando Monteiro da Silva, bastonário da Ordem de Médicos Dentistas, "este é um dos países da Europa em que as pessoas mais pagam, diretamente do seu bolso, um conjunto de tratamentos, entre os quais estão várias áreas de saúde como a medicina dentária". "As pessoas são muito penalizadas com pagamentos diretos para ter acesso à medicina dentária e saúde oral", acrescenta, em declarações à TSF.
Nesse sentido, o bastonário defende que "precisamos de mais acesso à medicina dentária", mas que, "se este se faz através de mais profissionais a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde ou utilizando a rede privada instalada, ou ambas as situações, essas são decisões mais de foro político".
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Na perspetiva de Orlando Monteiro da Silva, trata-se de "pensar no que é mais eficaz e mais barato".
O bastonário, ouvido pela TSF, sublinhou as "medidas como a implementação do cheque-dentista e o seu anunciado alargamento para acompanhar crianças a partir dos dois anos, porque o barómetro demonstra que a situação é particularmente grave - talvez devido a uma ideia errada por parte da população de que as crianças não necessitam de ser acompanhadas quanto aos dentes de leite - nos menores de seis anos".
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"Foi positivo, no Governo anterior, ter-se colocado médicos dentistas que atualmente estarão em cem ou 120 centros de saúde", garante, embora considere "claramente pouco".
O número de portugueses com a dentição completa mantém-se à volta dos 31%, assim como o de portugueses com falta de todos os dentes (10%). Contudo, apesar de o número de portugueses sem dentes naturais se manter em linha com as edições anteriores do barómetro, hoje "já existe maior probabilidade de terem dentes substitutos", sublinha o documento.
Quase metade (48,6%) dos portugueses com falta de dentes naturais não têm dentes de substituição, quando em 2014 este valor era de 56,1%.
O Barómetro da Saúde Oral 2019 mostra ainda que 27,8% dos portugueses com mais de seis dentes em falta não têm nada a substituí-los.
Segundo o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, "existe hoje uma maior preocupação dos portugueses com a saúde oral, mas há uma percentagem elevada de pessoas que continuam longe dos consultórios de medicina dentária e a probabilidade de serem estas a quem mais faltam dentes naturais sem nada terem a substituir é muito grande".
"São estas pessoas, por regra com menos recursos e informação, as mais vulneráveis e as que mais precisam de resposta urgente por parte do Ministério da Saúde", sublinha.
O bastonário lembra que "há 59% de portugueses que não sabem que o Serviço Nacional de Saúde disponibiliza a área de medicina dentária", um valor que tem vindo a cair face a edições anteriores do barómetro. Apesar disso, o responsável considera "essencial que haja uma maior divulgação das consultas de medicina dentária nos centros de saúde e que os médicos de família indiquem os doentes em condições de aceder a essas consultas".
"Tem havido muitos interessados em estar no Serviço Nacional de Saúde. Temos quase dez mil médicos dentistas em Portugal, muitos dos quais obrigados a sair do país à procura de melhores condições de exercício profissional", assevera Orlando Monteiro da Silva, que vinca a "qualidade e quantidade" de especialistas que "poderiam contribuir muito para melhorar a saúde oral".
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O barómetro deste ano permitiu ainda perceber que nem todos os portugueses escovam os dentes duas vezes por dia, como recomendam as boas práticas da saúde oral, pois apenas 77,6% afirmam cumprir esta indicação.
"Continua a ser notória a maior implementação destes hábitos nas mulheres", indica o documento.
Embora a maioria dos portugueses escove os dentes pelo menos duas vezes por dia, o uso do fio dentário e de elixir ainda não estão tão enraizados nos seus hábitos. São apenas 3,7% os que usam o fio dentário duas vezes por dia e 19,7% usa menos de uma vez por semana. Já o elixir é usado duas vezes por dia por 6,5% dos que escovam os dentes segundo as boas práticas da saúde oral, enquanto 26,7% o usa menos de uma vez por semana.
Para os inquiridos pelo barómetro, grávidas, diabéticos e portadores de doenças cardíacas ou respiratórias deveriam ter acesso mais facilitado a cuidados de medicina dentária, por necessitarem de acompanhamento redobrado.