Mais de 39 mil internamentos e quatro vezes mais dependentes: consumo de álcool em Portugal agrava-se
Portugueses começam a beber cada vez mais cedo. O SIDAC revela que já há altas prevalências de consumo de álcool aos 13/14 anos, idades em que as raparigas bebem mais do que os rapazes.
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Nos últimos dez anos, o número de dependentes de álcool multiplicou-se por quatro. É um diagnóstico que preocupa o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência (SICAD) que nota, esta terça-feira, que em 2022 foram internadas mais de 39 mil pessoas devido a álcool.
Segundo o Relatório Anual 2022 - "A situação do país em matéria de álcool" do SICAD, nos jovens de 18 anos, apesar da estabilidade do consumo recente e atual, em 2022 aumentou o consumo binge (agudo e descontrolado) a embriaguez, que atingiu os valores mais altos desde 2015.
"Também as prevalências da experiência de problemas relacionados com o consumo de álcool foram muito superiores nos últimos dois anos por comparação aos anos pré-pandemia", refere o documento, que aponta para 4538 internamentos hospitalares com diagnóstico principal atribuível ao álcool, na sua maioria relacionados com doença alcoólica do fígado (67%) e dependência de álcool (21%).
No entanto, se forem tidos em conta os diagnósticos secundários, os internamentos passam ser bastante superiores: 40 465 em Portugal e 39 182 em Portugal continental. São os valores mais altos desde 2017.
A seguir a mesma tendência de subida, o número de pessoas que iniciaram tratamento por problemas relacionados com álcool foi de 4867 em 2022, o valor mais alto dos últimos dez anos. O SIDAC revela que estiveram em tratamento em ambulatório da rede pública 13827 utentes com problemas relacionados com o uso de álcool. Dos mais de quatro mil que iniciaram tratamento, 1546 eram readmitidos e 3321 novos utentes.
Relativamente ao número de mortes, os registos do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses (INMLCF), citados pelo SICAD, dão conta de 936 óbitos positivos para o álcool em 2022, com 37% atribuídos a acidente, 31% a morte natural e 13% a suicídio.
Com valores mais residuais surgiu a intoxicação alcoólica (4%), homicídio (2%), intoxicação por exposição a outras substâncias (2%) e overdose com substâncias ilícitas (1%).
O SIDAC traça ainda um perfil de consumidor, indicando que a prevalência de consumo de álcool foi sobretudo em homens com idades entre os 25 e os 44 anos. Além disso, os portugueses começam a beber cada vez mais cedo: já há altas prevalências de consumo aos 13/14 anos, idades em que as raparigas bebem mais do que os rapazes.
"Não é aceitável ir ao supermercado e 1L de vinho ser mais barato que 1L de leite"
Em declarações à TSF, o vogal do conselho diretivo do SIDAC, Manuel Cardoso, denuncia uma "capacidade de fiscalização mínima" das autoridades e insiste que a venda de álcool a menores é uma realidade.
"A fiscalização é extremamente complicada e pouco feita na venda a menores. Os responsáveis pelos estabelecimentos vendem com facilidade sem pedir o cartão de cidadão", afirma.
Além disso, Manuel Cardoso considera que "não é aceitável ir ao supermercado e 1L de vinho ser mais barato que 1L de leite" e sugere que "um preço equilibrado entre aquilo que são os rendimentos da população e o preço da bebida alcoólica" pode ser uma solução para reduzir o consumo exagerado.
"Quanto mais cedo se iniciam os consumos e maiores as quantidades, mais cedo vão aparecer consequências efeitos desse consumo", sublinha.
Notícia atualizada às 11h20
