Mais desistências e mudanças de curso desde a pandemia: continuam as desigualdades no acesso ao Ensino Superior
A investigação da Fundação Belmiro do Azevedo revela a maior taxa de conclusão do liceu e o maior número de alunos a entrar na universidade não se reflete em qualidade
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As mudanças que o último Governo fez nas candidaturas ao Ensino Superior, durante a pandemia de Covid-19, não eliminaram as desigualdades de acesso às universidades e politécnicos entre os estudantes. É essa a conclusão do último estudo da Fundação Belmiro do Azevedo, divulgado esta sexta-feira.
A investigação visou analisar os impactos que as medidas governamentais do executivo de António Costa tiveram no acesso e sucesso dos estudantes no Ensino Superior, como o fim da obrigatoriedade dos exames nacionais para concluir o ensino secundário. À primeira vista, os resultados revelam uma maior taxa de conclusão do liceu e um maior número de alunos a entrar na universidade, mas um olhar mais atento mostra que esta quantidade acaba por não refletir qualidade, como explica a professora Orlanda Tavares, uma das coordenadoras do estudo. "As maiores taxas de conclusão e de ingresso não se verificam de igual forma para todos os grupos. Tradicionalmente, há quem tenha mais dificuldade em entrar no ensino superior, e a pandemia não só não mudou isso como, em alguns casos, até agravou", explica, em declarações à TSF.
O estudo revela ainda que, desde a pandemia, houve mais pessoas a desistir do curso a meio, em particular na área da Educação. Em causa, explica Orlanda Tavares, está a pouca atratividade da área, mas não só. "São estudantes de um nível sociocultural mais baixo, pelo que tendem a ter mais dificuldades em fazer face às despesas que surgem durante o curso", adianta.
No final, os autores fazem uma previsão do que poderá acontecer, caso o atual Governo reverta as medidas do último Executivo. "Mudando essas regras, é previsível que as classificações venham a diminuir. Prevê-se que as taxas de conclusão do secundário diminuam também, caso os exames nacionais voltem a contar para a média", adverte. Os investigadores deixam ainda algumas recomendações para tentar mitigar as desigualdades expostas pelo estudo, como a diversificação das vias de acesso à universidade, um maior apoio financeiro e assistência social ou uma maior integração social.
