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A ARS Norte diz que na base desta recomendação facultativa está a segurança do doente. Um responsável da Federação Nacional de Médicos diz que falta base científica para esta ideia.
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A Administração Regional de Saúde do Norte entende que apenas 25 a 40 por cento dos utentes com 75 anos ou mais devem receber mais de cinco medicamentos.
Esta ARS considera que está em causa a «segurança do doente é inversamente proporcional ao número de medicamentos prescritos», sendo que, por isso, dar mais medicamentos não significa melhor tratamento.
Em declarações à TSF, o vice-presidente desta ARS lembrou que antes de ser aplicado este indicador que limita a prescrição de fármacos a estes idosos foram analisados vários critérios.
Rui Sernadas recordou que a Revista Portuguesa de Medicina Familiar «alertava para a dimensão deste problema e para o impacto do ponto de vistas das complicações na perceção do doente em relação ao que deve tomar e quando deve tomar».
Esta revista também falava do «risco para os efeitos secundários simultâneos e que resultam da interação destas drogas e questionava sobre um aumento direto do risco das complicações a partir do momento em que os medicamentos tomados por cada idoso passava para quatro para mais de dez».
«Portanto, estamos a falar de uma temática para a qual existe evidência científica muito vasta, nacional e internacional», acrescentou Rui Sernadas, que frisou que não está em causa o dinheiro poupado nos cortes.
Também ouvido pela TSF, João Rodrigues, da Federação Nacional dos Médicos, entende que falta base científica a esta recomendação e considera mesmo que está a ser aplicada «às cegas».
«Teria de haver um estudo aprofundado da população de cada USS, que teria de ser caracterizada pela patologia crónica na sua totalidade, pelo local onde está a ser assistida. Há aqui várias variáveis que têm de ser analisadas», acrescentou.
Perante esta recomendação facultativa, que confere mais possibilidade ao clínico que a aplica mais hipóteses de conseguir "muito bom" na sua classificação, João Rodrigues alerta para a possível gravidade deste tipo de prescrição.
«Se for feita desta maneira pode induzir médicos a prescrever erradamente e em cortar em fármacos que sejam necessários ao controlo de doenças crónicas», concluiu.
Este indicador de menos medicamentos para doente com 75 anos ou mais foi aplicado em março apenas na Administração Regional de Saúde do Norte.