A junta de freguesia do Areeiro seguiu o exemplo de vários países e decidiu limpar as ruas com produto desinfetante. Apesar de não haver provas científicas da eficácia, responsáveis garantem que é melhor do que não fazer nada.
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O dia começa cedo no Bairro Portugal Novo, na freguesia do Areeiro, em Lisboa. Apesar da chuva, a desinfeção nas ruas, que já dura há quase três semanas, não abranda. No local, uma carrinha branca abre-se para dar início ao processo. É João Sousa, chefe de equipa, que coordena as operações e enche os depósitos com o desinfetante (hipoclorito de sódio a 0,5%).
Às costas, André Cafurica e Diogo Pais levam uma espécie de mochila com "quase 20 quilos", um depósito que leva "14 quilos de produto, mais o motor que são uns três ou quatro". Dependendo da área, têm de voltar a encher a cada 15 ou 20 minutos.
João Sousa conta que há "mais trabalho do que é costume", até porque a empresa Eristema, que estava focada essencialmente na jardinagem, adaptou-se rapidamente e por completo à limpeza de zonas urbanas para combate à Covid-19. A maioria dos trabalhadores já tinha formação, os outros tiveram de imediato para começarem a trabalhar.
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As pessoas veem a ação com bons olhos e, assegura João Sousa, não há razões para 'fugir' durante a limpeza, "pelo contrário". "Até é bom porque desinfeta tudo, principalmente o calçado das pessoas que vão na rua, é uma coisa difícil de se limpar e assim sempre tem uma desinfeçãozita", atira o responsável.
É esse o grande objetivo desta ação, ajudar a desinfetar as ruas da freguesia, depois de a junta ter estudado o que estava a ser feito no estrangeiro para combater a Covid-19. "Fomos ver o resto do mundo e na China, que era onde estava mais evoluído, eles estavam a desinfetar as ruas todas", conta César Laranjo, da comunicação da junta de freguesia.
Não há provas científicas da eficácia da medida
O produto é igual ao que a Câmara Municipal de Lisboa usou nas carruagens do metro e dos comboios e que a DGS diz não haver provas científicas da eficácia. Confrontado com esta posição, César Laranjo questiona: "Se devemos lavar as mãos, se devemos lavar a casa toda, porque é que não devemos lavar a rua?"
Ana Girão, engenheira agrónoma, concorda e vai mais longe, dizendo que "mal não faz". "A função é desinfetar e achamos que corre bem", acrescenta. A especialista lembra que o produto serve para "desinfetar calçada, mobiliário urbano, alguns muros, puxadores das portas, caixotes do lixo, ecopontos, zonas onde as pessoas podem passar mais e estar mais em contacto".
A engenheira faz até uma comparação do produto com a mistura de água e lixívia que muitas vezes se faz em casa. "É isso, mas em larga escala", explica, sublinhando que a limpeza nunca é de mais, principalmente nesta fase.
Estas ações já começaram há quase três semanas e a junta de freguesia quer mantê-las para que as ruas estejam limpas e a população se sinta mais segura.