Manifestações anti-imigração e antifascista a 350 metros de distância no Porto

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As duas iniciativas acontecem no sábado, às 17h00 e às 18h00, e já foram autorizadas pela PSP.
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Uma manifestação contra a imigração e outra antifascista vão decorrer a 350 metros de distância no sábado na baixa do Porto, tendo já sido autorizadas pela Polícia de Segurança Pública.
Contactada pela Lusa, fonte do Comando Metropolitano da PSP do Porto afirmou hoje que foi dado parecer positivo à realização das duas manifestações, que serão acompanhadas por agentes de segurança.
Também a Câmara do Porto afirmou que foi solicitada avaliação policial ao Comando Metropolitano da PSP do Porto, como acontece em todas as manifestações.
"O parecer policial não é contrário à realização das manifestações indicadas", acrescenta, destacando que o direito de manifestação "não carece de autorização" do presidente da autarquia e que a avaliação de segurança é "da exclusividade competência da PSP".
"Não compete à CMP ajuizar sobre matérias exclusivamente policiais. As manifestações previstas para o dia 06 de abril não são geograficamente coincidentes. As medidas de polícia que possam ser adotadas para este fim específico são da exclusiva competência da PSP", acrescenta.
Em declarações à TSF, Nuno Cruz, presidente da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, afirma que só esta manhã teve conhecimento oficial da realização das duas manifestações, mas diz que está tranquilo.
"Estão garantidas todos elementos para haver ordem pública e segurança nas manifestações. Portanto, a PSP tem noção da situação, já se prontificou e já meteu tudo em sintonia para que as manifestações se possam fazer em segurança", assegura.
Questionado se a PSP poderia ter travado a realização dos dois protestos no mesmo dia, quase à mesma hora, e com dois propósitos tão antagónicos, Nuno Cruz sublinha a confiança que deposita nas forças de segurança.
"Temos de confiar no trabalho da PSP. Até hoje, a PSP tem se demonstrado à altura dessa segurança que nós precisamos e, portanto, eu não posso dizer que não deveriam ser feitos. Eu tenho de confiar que a PSP analisou as circunstâncias e viu que não havia qualquer perigo ou qualquer elemento que não fosse possível realizar as manifestações", sublinha.
Convocada pelo grupo 1143, a manifestação "Menos Imigração, Mais Habitação" está prevista para as 18h00 na Praça D. João I, segundo a PSP.
Na rede social X (antigo Twitter), o grupo, que tem como porta-voz o militante de extrema-direita Mário Machado, convoca "todos os patriotas a marcarem presença" no Porto para mostrarem "oposição à invasão de imigrantes, que é a principal razão para o aumento brutal do preço da habitação".
"Não basta parar a imigração, é urgente iniciar o processo de remigração para a esmagadora maioria destes indivíduos e fazermos ouvir a nossa voz", refere.
Noutra publicação na mesma rede social, o grupo de extrema-direita afirma que "os Fascistas de Abril querem proibir os patriotas de se manifestarem no Porto".
Com o ponto de encontro marcado para a Praça D. João I, o protesto seguirá pela Rua Dr. Magalhães Lemos, Avenida dos Aliados e Rua Sá da Bandeira, terminando no local onde se inicia.
Por sua vez, a associação Habitação Hoje convocou também para sábado uma manifestação "Contra o Fascismo, Mais e Melhor Habitação".
Segundo a PSP, a ação inicia-se às 17:00 na Praça da Batalha, que dista 350 metros do local de encontro do protesto de extrema-direita.
Na rede social Facebook, a associação apela à união "da classe trabalhadora, portuguesa e imigrante, contra o fascismo, o ódio e a desinformação".
Numa tentativa de impedir a realização da manifestação convocada pelo grupo 1143, várias organizações envolvidas na "manifestação contra o fascismo" lançaram uma carta aberta endereçada ao Presidente da República, presidente da Câmara do Porto, comandante da PSP do Porto e outros responsáveis da área da justiça.
Consultada pela Lusa, a missiva, semelhante à divulgada em janeiro na sequência da manifestação "contra a islamização da Europa" no Martim Moniz, em Lisboa, apela que a se trave "a saída desta manifestação que (...) se constitui como incitamento ao ódio e à violência e não mero exercício da liberdade de expressão".
"Com esta carta pretendemos defender a segurança de todas as pessoas imigrantes em Portugal, combater o racismo, a xenofobia, a hostilidade religiosa e o crescimento do discurso de ódio a que temos vindo a assistir", acrescentam.
Bernardo Alves, do movimento Habitação Hoje, reconhece que essa carta não conseguiu o que se pretendia.
"O objetivo principal era que a manifestação fascista, que foi convocada também para dia 6 de abril, não tivesse autorização por parte da PSP e da Câmara do Porto, que já vieram dizer que autorizam. A manifestação pode ser feita à mesma porque as manifestações não carecem de autorização, requerem só de comunicação, mas a PSP tem de dar o parecer positivo de que não existe nenhum problema com essa comunicação. Neste caso, nós acreditamos que existe, porque é um discurso de ódio e é um incitamento à violência, que é fácil de ver por várias notícias que têm saído sobre ódio contra imigrantes nas próprias páginas destes grupos nas redes sociais. E, portanto, é fácil de perceber quais são as reivindicações e o próprio título da manifestação, que teria uma relação que é falsa, que é o problema da habitação tem a ver com o problema da imigração. Também é claro quando em quatro dias conseguiu 4000 assinaturas numa carta aberta para este fim", afirma, também em declarações à TSF.
