Manoel de Oliveira. Filho lamenta que obra do pai não tenha sido "reconhecida completamente"
Casa do Cinema Manoel de Oliveira é inaugurada esta segunda-feira em Serralves e disponibiliza o acervo do cineasta, que morreu aos 106 anos em 2015.
Corpo do artigo
Argumentos, correspondência, fotografias, entre outros documentos, fazem parte do conteúdo do espólio do realizador Manoel de Oliveira que estará a partir de hoje disponível nas antigas garagens do Museu de Serralves.
A Casa do Cinema Manoel Oliveira juntará o acervo do cineasta que realizou ao longo dos seus 106 anos, mais de meia centena de filmes. Na Tarde TSF, o filho do realizador admitiu que o trabalho do seu pai não foi uma figura consensual.
"Não é agradável um autor não se ver reconhecido completamente no seu país.É o que ele sentia, um bocado posto à parte. Não ficou totalmente à parte porque tinha números impressionantes e um reconhecimento internacional de tal ordem, que influenciou muito o pensar de muita gente que por aqui andava a fazer crítica", disse Manuel Casimiro, entrevistado pela TSF em Serralves.
O filho mais velho de Manoel de Oliveira vincou a identidade e o legado deixado pelo realizador no panorama do cinema português. "Temos consciência que é um autor único, ímpar na cultura universal. Não inventou o cinema, mas inventou uma maneira muito própria de o fazer. Revolucionou a maneira de o ver e que obriga a uma reflexão", sublinhou.
Nesta conversa com a TSF, Manuel Casimiro revelou ainda que o seu pai era muito apaixonado pela arquitetura, paixão que não deixou de eternizar nos seus filmes. Durante 40 anos, o cineasta viveu com a sua esposa numa casa projetada pelo arquiteto José Porto.
"Aquela casa foi acompanhada na construção pelo meu pai, que tinha um grande fraco pela arquitetura. Dizia mesmo que se não fosse cineasta, realizador, seria um arquiteto", recordou.
"A casa era, extremamente para o nosso país, moderna para aquela época e muitas pessoas chocavam-se, não tinha quase portas nenhumas. Uma casa inovadora. Significava muito para o meu pai", concluiu.
O acervo da obra de Manoel de Oliveira pode agora ser interpretado, consultado no espaço que Serralves lhe cedeu e Álvaro Siza Vieira desenhou. O investimento rondou os 3 milhões de euros.