
Rui Oliveira/Global Imagens (arquivo)
Um pequeno projecto solidário, da cirurgiã plástica Ana Silva Guerra, propõe operações a doentes carenciados, que não encontram resposta no Serviço Nacional de Saúde. As duas primeiras pacientes já foram operadas a custo zero.
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Um cancro na mama ditou o encontro de Sónia Tavares e Ana Silva Guerra, no Hospital São José, em Lisboa, em 2015.
A doente, Sónia, precisou de uma reconstrução mamária e foi a cirurgiã plástica, Ana Silva Guerra, quem tratou do caso. Do lado de Sónia, foi paixão à primeira vista. "Vi nos olhos da Doutora que tinha tanto amor para dar", recorda com um sorriso. No entanto, perdeu o rasto da médica por alguns anos. "Chorei para não tirar a doutora do meu caminho", procurou-a na Internet, quando lhe apareceram vários quistos e o reencontro acabaria por acontecer, agora na Clínica de Ana Silva Guerra e na Clínica da Beloura, do grupo Cordeiro Saúde, em Sintra. É aqui que a cirurgiã plástica trabalha actualmente, depois da experiência e formação adquiridas no Hospital São José.
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Ana Silva Guerra confessa que, com a saída do SNS, sentia falta de "ajudar pessoas que não têm capacidade, não têm recursos". Propôs, então, criar um projecto solidário, em que os doentes mais carenciados seriam operados pro bono, na Clínica da Beloura. Ficou "incrédula" quando o Dr. Luís Mendes, "meu parceiro neste projecto", aceitou a proposta. "Isto faz-me bem a mim. Eu fico muito feliz por fazer a diferença por alguém que precisa e não consegue. Não tem outra forma, não tem capacidade e lembrei-me logo da Sónia, claro."
Sónia tinha mais de 30 quistos nas costas, nas pernas e nos ombros. "Sentia vergonha de tirar a roupa com tantos tumores. O meu corpo era horrível. Chorava imenso", recorda, mas uma única operação custaria três mil euros e "não tinha como pagar". Eram neurofibromas, "bolinhas que incomodavam no vestir, no toque", explica Ana Silva Guerra. A remoção é simples, mas se pensarmos em centenas de "bolinhas", o caso torna-se mais complexo.
A enfermeira-directora do grupo Cordeiro Saúde, Ana Grosso, lembra que "o nosso Serviço Nacional de Saúde está sobrecarregado. Portanto, de alguma maneira, estas situações não são priorizadas, mas não quer dizer que estas pessoas não mereçam toda a atenção desta área de especialidade cirúrgica e que também possam sentir que têm acesso a ela". A equipa de Ana Silva Guerra oferece o trabalho cirúrgico, a equipa da Cordeiro Saúde garante todos os recursos humanos para a execução do acto cirúrgico e do pós-operatório imediato. A operação fica, assim, a custo zero para o doente. O projecto solidário "Mãos de Esperança" já operou duas pacientes e mais quatro serão intervencionados até ao final do ano.
No projecto, cabem todas as necessidades do foro da cirurgia plástica, explica Ana Silva Guerra. Por exemplo, a reconstrução mamária para quem teve cancro da mama, doentes com queimaduras, excesso de pele nas pálpebras que quase impedia uma doente de abrir os olhos. Os pedidos à cirurgiã têm chegado por e-mail, mas Ana Silva Guerra também contacta doentes que lhe passam pelas mãos, sempre com a ressalva de que são pessoas que "não têm outra hipótese" de ser ajudadas. A esses, a médica garante: "O que eu puder fazer, faço."
Sónia Tavares confirma a generosidade do projecto. "Nem tenho como pagar à Doutora. Foi um anjo para mim. Foi uma prenda, um milagre de Deus. Ganhei uma nova vida. Acho que renasci de novo", afirma com uma profunda gratidão pelo abraço das "Mãos de Esperança". Depois da cirurgia, Sónia ficou sem quistos e cicatrizes, apenas com pequenos "pontos negros", e acredita que os tumores não vão voltar.
A autora não escreve segundo as normas do Novo Acordo Ortográfico