Os preços das bebidas com alto teor de açúcar revelaram uma subida superior ao valor da taxa aplicada pelo Governo, alerta um estudo recente. No entanto, segundo a investigação, o consumo de refrigerantes não diminuiu.
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Uma investigação publicada pelo Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia mostra que as empresas de bebidas açucaradas aproveitaram a nova taxa sobre estes produtos para aumentarem os preços acima do valor do imposto.
De acordo com o Dinheiro Vivo , o estudo, intitulado "Brown Sugar, how come you taste so good? The Impact of a soda tax on prices and consumption",analisou a evolução dos preços e das vendas de bebidas açucaradas em mais de 400 pontos de venda por todo o país, entre fevereiro de 2015 e janeiro de 2018.
Segundo as conclusões do estudo, a taxa do açúcar - que foi introduzida pelo Governo em fevereiro de 2017 - levou a que várias marcas, como a 7Up e a Fanta (bebidas com aproximadamente 80 gramas de açúcar por litro), aproveitassem para aumentar o preço dos refrigerantes, em média, em 15 cêntimos, quando o valor da taxa em causa era de apenas 10 cêntimos.
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Os economistas responsáveis pelo estudo, Judite Gonçalves e João Pereira dos Santos, da Nova School of Business and Economics, salvaguardam, no entanto, que a fórmula de produção destes refrigerantes terá sido alterada de modo a reduzir o teor de açúcar, o que pode explicar, em parte, o aumento do preço nas vendas.
O aumento "pode refletir, em parte, os custos adicionais relacionados com a reformulação do produto, reembalagem e reposicionamento da marca", referem.
No entanto, também no caso das bebidas com pouco açúcar (menos de 70 gramas/litro), os preços subiram mais do que o valor da taxa aplicada pelo Governo.
"Em relação às bebidas com baixo teor de açúcar, os preços aumentaram em média 15-16 cêntimos por litro, o que corresponde novamente a mais do que o valor do imposto (8 cêntimos)", indicam os investigadores.
No caso das bebidas com um muito elevado teor de açúcar (mais de 80 gramas/litro), como a Coca-Cola e a Red Bull, os produtores passaram mesmo praticamente todas as despesas do novo imposto (de 16 cêntimos por litro) para os consumidores.
A análise realizada comprova ainda que tal como a greve dos motoristas levou a uma corrida aos postos de abastecimento de combustível, também a taxa sobre as bebidas açucaradas levou os consumidores a correr aos supermercados para comprar este tipo de bebidas antes de os preços aumentarem. Houve um expressivo aumento das vendas antes da introdução das novas taxas, com as vendas a subirem entre 19% e 24% no trimestre anterior à entrada em vigor da medida.
"Em relação ao consumo, os nossos resultados sugerem um comportamento de armazenamento no trimestre, quando foi aprovada a taxa e antes de entrar, de facto, em vigor", explicam os economistas.
No entanto, mesmo após a entrada em vigor da taxa, o consumo de refrigerantes parece não diminuir, revelando um impacto pouco significativo da medida.
"A procura pela maior parte dos refrigerantes parece ser inelástica", conclui a investigação.
Ordem dos Nutricionistas estranha níveis de consumo de refrigerantes
A bastonária da Ordem dos Nutricionistas encara com "muita estranheza" as conclusões do recente estudo que indicam que o consumo de bebidas açucaradas não baixou após a entrada em vigor do imposto criado pelo Governo.
Em declarações à TSF, Alexandra Bento afirma que os resultados deste estudo contrariam a informação que tem sido recebida através do Ministério da Saúde.
"Eu e outros profissionais temos resultados que contrariam estes, vindos mesmos do Ministério da Saúde", alega a bastonária dos nutricionistas, que acredita que "o consumo de refrigerantes tem vindo a diminuir".
"Irei inteirar-me melhor dos resultados para perceber se há alguma tendência ou se é, simplesmente, contrainformação", concluiu Alexandra Bento.
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*com Sara de Melo Rocha e Maria Miguel Cabo
Notícia atualizada às 10h33