Marcelo assume "divergências" e deixa avisos, mas mantém Governo "a bem da estabilidade"
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"A bem da estabilidade" e porque "os portugueses não desejam "esses sobressaltos", Marcelo Rebelo de Sousa não avança para a dissolução do Parlamento, embora assuma "divergências de fundo" com o Governo de António Costa, desde logo, pela manutenção de João Galamba como ministro das Infraestruturas.
O Presidente da República exige "autoridade, capacidade e fiabilidade" ao Governo, lamentando que, no caso Galamba, não tenha sido possível "acertar agulhas", entre Belém e São Bento, como sempre aconteceu no passado: "Foi pena".
Numa declaração ao país com cerca de dez minutos, dois dias depois de António Costa ter recusado o pedido de demissão de João Galamba, Marcelo Rebelo de Sousa acentuou as divergências com a decisão do primeiro-ministro e dividiu o discurso em "duas palavras: uma sobre o passado, outra sobre o futuro".
Números "muito positivos", mas ainda não chegaram "à vida dos portugueses"
Sobre o passado, o Presidente lembrou que alguns "números muito positivos" da economia "ainda não chegaram à vida dos portugueses", pelo que é preciso fazer "mais e melhor", numa mensagem para o Governo. Exige-se, por isso, "autoridade, capacidade, fiabilidade, credibilidade, respeitabilidade".
"Autoridade, para existir e ser respeitada, tem de ser responsável. Onde não há responsabilidade, não há autoridade e credibilidade", disse.
Onde não há responsabilidade, não há autoridade e credibilidade
"A autoridade e responsabilidade" foi o mote de Marcelo Rebelo de Sousa para se referir ao caso de João Galamba, já que "um governante sabe que aceita ser responsável pelo que faz e não faz, assim como por aqueles que escolhe".
Numa referência direta ao ministro das Infraestruturas, Marcelo Rebelo de Sousa questiona "como poderá um ministro não ser responsável por um assessor seu", que ficou responsável pelo dossier da TAP, assim como "por situações rocambolescas, inadmissíveis e deploráveis suscitadas por esse colaborador". O antigo adjunto, Frederico Pinheiro, é acusado de roubar o computador da sede do ministério e de agredir assessores das Infraestruturas.
A falta de "responsabilidade" que não se resolve "com um pedido de desculpas"
Marcelo Rebelo de Sousa lembra que a "responsabilidade política" é "essencial para os portugueses e não se resolve apenas com um pedido de desculpas", tal como fez António Costa, admitindo que o caso "é deplorável".
"É uma realidade objetiva e implica olhar para os custos do que aconteceu, seja na autoridade do ministro, do Governo e do Estado. Não se apaga dizendo que já passou: não passou", defendeu.
E acrescentou: "Nunca passa, reaparece todos os dias todos os meses todos os anos", disse, num aviso ao ministro em causa, mas também ao líder do Governo.
Foram essas as razões para que o Presidente defendesse que "o ministro das Infraestruturas devia ter sido exonerado", tal como já tinha defendido publicamente, numa nota oficial.
Marcelo lembrou que "no passado, foi sempre possível acertar agulhas, mas agora não", terminando com uma exclamação: "Foi pena".
Primeira conclusão: portugueses querem estabilidade
Já com os avisos em cima da mesa, o Presidente da República garante que "vai tirar já conclusões", embora mantenha o Governo a bem da "estabilidade", já que "os portugueses não desejam esses sobressaltos e esses compassos de espera", apesar do que "se vai dizendo".
Os portugueses não desejam sobressaltos
"Os portugueses querem ver os problemas do dia-a-dia resolvidos", atirou.
Com o atual Presidente da República "não contam" para fraturas, muito menos para "enfraquecer o papel presidencial". Marcelo acrescenta que "não tem vontade de criar mais problemas aos que já existem", lembrando que se coordenou sete anos com Governos à esquerda, embora seja da família política da direita.
Segunda conclusão: Presidente tem de fiscalizar Governo de perto
A segunda conclusão do Presidente tem a ver com "a responsabilidade" dos ministros, pelo que "estará mais atento e interveniente no dia-a-dia", de forma a fiscalizar o Governo mais perto, para que não tenha de assumir "outros poderes de que não abdico", numa referência à dissolução do Parlamento.
"São estas as lições para o Presidente, numa altura em que as responsabilidades governativas não foram assumidas, como deveriam ter sido", sublinhou.
Marcelo voltou a apelar "aos que governam" para que "cuidem mesmo da credibilidade", poupando "aquilo que ninguém deseja, a começar por mim". Já que "aí chegados, já será tarde".
E, mais uma vez, o Presidente defende que a responsabilidade política "não foi assumida, como devia ter sido".
"Espero poder contar com a sensatez de todos. E, claro está, conto sempre com a experiência, prudência e sabedoria do povo português", concluiu.
