Marcelo na tomada de posse de João Lourenço: viagem já aconteceu, mas IL vota contra
Em declarações à TSF, o líder parlamentar da Iniciativa Liberal diz que um "estado democrático não pode legitimar um estado autocrático".
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Só quando Marcelo Rebelo de Sousa estiver perto de aterrar em Lisboa, de regresso de Angola, é que os deputados vão aprovar a deslocação do Presidente da República à tomada de posse de João Lourenço. E, apesar de a viagem não estar em causa, a Iniciativa Liberal (IL) avisa que o voto dos seus oito deputados será contra.
Os liberais justificam a posição, defendendo que "a mais alta figura de um estado democrático não pode legitimar um estado autocrático". Apesar de a viagem já ter acontecido, a votação só está agendada para o final da reunião plenária desta sexta-feira. A tomada de posse de João Lourenço foi marcada para 15 de setembro, depois de o Tribunal Constitucional angolano ter indeferido um pedido da UNITA para anular os resultado das eleições, no final da semana passada.
Em declarações à TSF, o líder parlamentar da IL, Rodrigo Saraiva, fala em duas razões para o voto contra dos liberais: legitimação de um regime autocrático e "reciprocidade" nas tomadas de posse.
"A mais alta figura de um estado democrático não pode legitimar um estado e um regime autocrático. Esta é a principal razão. Depois, há também um patamar do que são as regras da diplomacia, e não existe um histórico de reciprocidade na presença de chefes de Estado nas tomadas de posse. Ninguém se recorda de um chefe de Estado de Angola ter vindo à tomada de posse de um chefe de Estado de Portugal", acrescenta.
Além disso, Rodrigo Saraiva lembra as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, já em Angola, quando comparou o processo eleitoral angolano com as eleições em Portugal que levaram à criação da geringonça.
"Em Angola há bastantes dúvidas, por exemplo, com o último processo eleitoral. O Presidente da República comparou com a constituição da geringonça, mas, concorde-se ou não, foi um processo democrático e legítimo. É comparar o incomparável", sublinha.
Esta já não é a primeira vez que a IL vota contra a deslocação do Presidente da República a Angola. Quando Marcelo Rebelo de Sousa se deslocou a Luanda, para o funeral de José Eduardo dos Santos, a viagem foi aprovada, mas os votos contra da IL e do Bloco de Esquerda.
*Notícia atualizada às 08h00