Da urgência da pandemia à união. Marcelo pede ajuda a todos para "recriar Portugal"
Num discurso marcado pela pandemia, Marcelo avisa o país para os desafios do futuro próximo. E pede os esforço de cada um "para refazer os laços desfeitos" pela grave crise que o país atravessa.
Numa noite marcada pela simplicidade, Marcelo Rebelo de Sousa voltou ao ponto de partida, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, para agradecer "a confiança" aos portugueses. O Presidente reeleito, com mais de dois milhões e meio de votos, começou por lembrar as vítimas da pandemia, referindo o trágico balanço das últimas 24 horas.
"É para eles o meu, o nosso primeiro e emocionado pensamento. Para eles e para as suas famílias, são com os demais que sofreram e sofrem e lutam, dia após dia, pela vida e a saúde, o retrato de Portugal em que decorreu esta eleição, em plena pandemia agravada em janeiro com estado de emergência e confinamento inevitável, com crise económica e social, queda de crescimento e projeção na pobreza e nas desigualdades", lamentou o chefe de Estado, deixando uma palavra de "gratidão ilimitada" pelo esforço dos cidadãos que "mais se sacrificaram para que a democracia não fosse vencida pela pandemia".
Perante a escolha dos portugueses, Marcelo entende que a "confiança é tudo menos um cheque em branco". "Quem recebe o mandato, tem de continuar a ser um Presidente de todos e de cada um dos portugueses. Um Presidente próximo, que estabilize, que una, que não seja de uns, os bons contra os outros, os maus. Que não seja um Presidente de fação. Um Presidente que respeite o pluralismo e a diferença, que nunca desista da justiça social", disse o chefe de Estado, que afasta o cenário da divisão e pede unidade em torno das prioridades do país.
Um Presidente próximo, que estabilize, que una, que não seja de uns, os bons contra os outros, os maus
Para Marcelo, os portugueses "não querem uma pandemia infindável, uma crise económica sem termo à vista, um empobrecimento agravado, um recuo na comparação com outras sociedades europeias, um sistema político lento a perceber a mudança, uma radicalização e um extremismo nas pessoas, nas atitudes, na vida social e política".
"Querem uma pandemia dominada o mais rápido possível, uma recuperação de emprego, rendimentos, crescimento, investimento, exportações e mercado interno. Uma perspetiva de futuro efetivo para micro, pequenas e médias empresas. Uma presidência portuguesa da UE fortalecendo o papel de Portugal na Europa e no mundo, a começar no universo da lusofonia, fundos europeus bem geridos, em transparência e eficácia, uma reconstrução que vá para além da mera recuperação, na qualificação, no clima e ambiente, no digital, mas também na demais economia, na justiça, na luta contra a corrupção, na reforma do Estado, na defesa e na segurança", alertou o Presidente, que não poupou avisos à Assembleia da República.
Marcelo prometeu "tudo fazer para persuadir quem pode elaborar leis a ponderar a revisão antes de novas eleições, daquilo que se concluiu dever ser revisto, para ajustar a situações como a vivida e, mais em geral, para ultrapassar objeções ao voto postal ou por correspondência, objeções essas que tanto penalizaram os votantes, em especial, os nossos compatriotas espalhados pelo mundo".
"É inconcebível que não se possa dizer que somos muito mais livres"
O Presidente da República reeleito com pouco mais de 60% lembrou que será daqui a três anos que o país irá comemorar meio século do "início da caminhada", rejeitando a perda daquilo que foi alcançado desde 1974. "É inconcebível que não se possa dizer então que somos, não só, muito mais livres, mas também muito mais desenvolvidos, iguais e justos. E tanto como nos prometemos nesse início".
Mas Marcelo avisou que tudo terá de começar no combate da pandemia, sublinhando que "a melhor homenagem aos mortos é cuidar dos vivos e com eles recriar Portugal".
"Temos de reencontrar o que perdemos na pandemia, refazer os laços desfeitos, quebrar as barreiras erguidas, ultrapassar as solidões multiplicadas, fazer esquecer as xenofobias, as exclusões, os medos instalados. Temos de recuperar e valorizar todos os dias as inclusões, as partilhas, os afetos, as cidadanias esvaziadas pela pobreza, dependência e distância", disse o chefe de Estado, que resumiu.
A principal resposta dada por esta eleição é uma, uma só: tudo começa no combate à pandemia
Temos de fazer tudo, o que de nós dependa, para travar e depois inverter um processo que está a pressionar ,em termos dramáticos, as nossas estruturas de saúde, temos de garantir por obras e não apenas por palavras aos nossos heróis profissionais da saúde que não há dois Portuguais com sentidos inversos e opostos", salientou o Presidente reeleito.
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