Marcelo recebe associação de vítimas de abusos na igreja católica a 12 de janeiro
Chefe de Estado recebe os representantes das vítimas dois dias antes da Conferência Episcopal Portuguesa.
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A Associação Coração Silenciado, que representa vítimas de abusos sexuais na igreja católica, vai ser recebida pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em 12 de janeiro, adiantou esta sexta-feira a associação.
Em declarações à TSF, Cristina Amaral, da Associação Coração Silenciado, explicou que vão tentar sensibilizar Marcelo "para a questão dos abusos sexuais praticados pela Igreja ao longo de décadas e dizer-lhe na primeira pessoa o que sentimos".
Cientes da "grande influência" que o Presidente tem junto da Igreja Católica portuguesa, a representante reconhece que "interceder" pode não ser a melhor palavra, mas que é isso que vão tentar que o chefe de Estado faça "a favor das vítimas" e da causa "para que as coisas não repitam".
A associação quer também perceber "qual é a sua posição" de Marcelo perante os casos de abuso, porque este "só se pronunciou uma vez e não foi muito feliz" na escolha de palavras, aponta: "Não sabemos qual é a posição dele face a essa questão e se tem alguma posição, visto que se dá lindamente com as mais altas patentes da igreja portuguesa."
A Coração Silenciado tem esperança que Marcelo faça desta "uma causa sua e também uma causa de todos, porque é transversal a toda a sociedade portuguesa".
"Não podemos fingir que não aconteceu e que não acontece. Aliás, eu própria estive com sua santidade o papa e havia lá um caso de 2023, portanto, isto não é um problema de há 50 ou 60 anos. Não, isto é um problema de ontem, de hoje, e será com certeza do futuro. Esperemos é que seja cada vez menos, ou que deixe de existir", sublinha.
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Segue-se encontro com a igreja
Dois dias depois desta visita, em 14 de janeiro, domingo, a Associação Coração Silenciado será recebida pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), um encontro anunciado desde final de dezembro e que acontece na Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo, no Santuário de Fátima.
Na reunião devem participar, pelo episcopado português, o presidente e vice-presidente da CEP, José Ornelas e Virgílio Antunes, respetivamente, e o secretário da Conferência, padre Manuel Barbosa.
O encontro realiza-se dois meses depois de a Coração Silenciado ter manifestado, em carta aberta aos bispos católicos portugueses, "tristeza, desagrado e indignação" pela forma como têm "lidado com o tema dos abusos sexuais na Igreja que conduzem".
Na carta, datada de 2 de novembro, a associação considerava que "nove meses depois da apresentação do relatório da comissão criada (...) para o estudo deste tema, (...) muito poucas foram as ações desenvolvidas e as atitudes concretas levadas a cabo".
Acusando a Igreja de estar a valer-se da prescrição dos casos, em termos criminais, a Coração Silenciado alertava que o "sofrimento não prescreve! Só acresce!".
Na carta aberta, os bispos são também questionados sobre quantos "já se reuniram, ao jeito do Papa Francisco, com as vítimas" das suas dioceses e quantos já entraram em contacto com a associação, ao mesmo tempo que a CEP era acusada de não ter ainda formalizado "nenhum convite para diálogo, para saber o que sentem as vítimas, o que precisam, o que esperam da Igreja em Portugal".
A Procuradoria-Geral da República (PGR) informou que o Ministério Público (MP) tem abertas 14 investigações sobre alegados abusos sexuais no contexto da Igreja Católica e arquivou outras 26 desde 2022.
Segundo a contabilização da PGR enviada à Lusa, as denúncias foram remetidas pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica, pela Comissão de Proteção de Menores e Pessoas Vulneráveis do Patriarcado de Lisboa, pelo Grupo VITA e por outros denunciantes.