Foi uma das mulheres mais ativas na luta contra a ditadura do Estado Novo, e uma das mais empenhadas na construção e consolidação do Regime Democrático saído da Revolução de Abril. Casada com Mário Soares, participou na fundação do Partido Socialista, foi atriz do Teatro Nacional D. Maria II, e era licenciada em ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
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Maria de Jesus Simões Barroso Soares nasceu no Algarve, na freguesia da Fuseta, concelho de Olhão, em 2 de maio de 1925. Filha de Alfredo José Barroso e de Maria da Encarnação Simões, manteve sempre laços profundos à região das suas raízes familiares, pese embora ter sido uma mulher do mundo. O pai, militar e republicano perseguido e várias vezes preso por razões políticas, transmitiu-lhe o gene da contestação e da luta pela liberdade e dignidade humana.
Repartiu a infância entre Setúbal e o Algarve, mas muito cedo veio para Lisboa, onde frequentou os liceus D. Filipa de Lencastre e Pedro Nunes, de onde transitou para a Escola de Teatro do Conservatório Nacional, diplomando-se em Arte Dramática em 1943, com a nota final de 18 valores. No ano seguinte estreou-se no palco do Teatro Nacional D. Maria II, na companhia de Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro, integrando o elenco da peça "Aparências" de Jacinto Benavente, sob a direção de Palmira Bastos.
Pouco depois Maria Barroso matriculou-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas em 1951. Conheceu na faculdade Mário Soares, com quem se casou a 22 de fevereiro de 1949, de acordo com o registo da 3ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa, quando ele se encontrava em prisão política. A partir de então, Maria Barroso sempre acompanhou o marido, não deixando, todavia, de manter as suas atividades familiares, profissionais e cívicas.
Como atriz Maria Barroso teve uma vida intensa desde 1944 até ao final da década, participando em dezenas de peças de autores reconhecidos, e contracenando com os grandes vultos do teatro. Mas no final dos anos 40 a companhia Rey Colaço-Robles Monteiro foi forçada a cancelar o contrato com Maria Barroso por razões políticas. Durante cerca de 15 anos a atriz suspendeu a representação, mas continuou a emprestar a sua voz como declamadora de poetas de intervenção em sessões privadas.
Em 1965 regressou aos palcos, desta feita nos teatros Villaret e S. Luiz. Mas para além do teatro, Maria Barroso participou em vários filmes, nomeadamente em "Mudar de Vida" (1966), de Paulo Rocha, trabalhando também com Manoel de Oliveira em "Benilde ou a Virgem Mãe" (1975), "Amor de Perdição" (1979), e "Le Soulier de Satin" (1985).
Na linha da frente nos combates políticos
Maria Barroso participou em todas as iniciativas de maior relevo, e ainda na clandestinidade, contra a ditadura. Em 1973 esteve em Bad Munstereifel, na Alemanha, com Mário Soares e um grupo de militantes, na sessão de criação oficial do Partido Socialista. Ainda antes da Revolução de Abril foi candidata a deputada pela Oposição Democrática em 1969, e participou no seu III Congresso, em Aveiro, em 1973, sendo a única mulher a intervir na sessão de abertura.
O seu ativismo político valeu-lhe ter sido proibida de exercer a docência, tanto no ensino público como privado, durante o Estado Novo. Facto que lhe causou graves limitações profissionais, nomeadamente enquanto diretora do Colégio Moderno, fundado em Lisboa pelo seu sogro, João Soares, e que se mantém na posse da família, agora sob a direção da sua filha Isabel Barroso Soares.
Após o "25 de Abril" foi deputada à Assembleia da República pelos círculos de Santarém, Porto e Faro. Enquanto primeira dama, entre 1986 e 1996 nos mandatos presidenciais de Mário Soares, Maria Barroso desenvolveu intensa atividade cívica. Em 1990 criou o movimento "Emergência Moçambique", assinando, no ano seguinte, a constituição da Associação para o Estudo e Prevenção da Violência.
Em 1995 envolveu-se no ciclo de realizações do Ano Internacional de Luta Contra o Racismo, a Xenofobia, o Anti-Semitismo e a Exclusão Social. Em 1997 assumiu a presidência da Cruz Vermelha Portuguesa, cargo que exerceu até 2003. Foi sócia-fundadora, em 1994, e presidente do Conselho de Administração da ONGD "Pro Dignitate" - Fundação de Direitos Humanos. Em 1994 recebeu o título de Doutor Honoris Causa pelo Lesley College, em 1999 pela Universidade de Aveiro, e em 1999 pela Universidade de Lisboa.
Foi condecorada com a Grã-Cruz Honorária da Ordem de Santa Isabel da Casa de Bragança, e em 1997 o Presidente Jorge Sampaio atribuiu-lhe a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, a que juntava ainda 15 semelhantes condecorações que lhe foram concedidas pela Hungria, Grécia, Suécia, Venezuela, Espanha, Brasil, Zaire, França, Colômbia, Alemanha, Luxemburgo, Finlândia, Dinamarca, Bulgária, e Marrocos.
(Fontes consultadas em dezembro de 2013: ctalmada.pt; algarveprimeiro.com; lapisazul.pt; ua.pt; fantastictvsite.blogspot.pt; nestahora.blogspot.pt; wikipedia.org)