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Vivia entre milheirais de folha negra e ramadas de vinho verde, tanto mais acre no sabor quanto as uvas debruadas em cachos eram ocultadas do sol bendito pela folhagem traiçoeira.
Uma infância feliz, então, a menina Maria Júlia. Os avós da quinta enorme de Costariça, propriedade dos Bacelares, de subida expressão cultural, entre médicos, músicos e advogados, e a família Gonçalves, abastadamente possante e agrícola. A mãe, a ti Celeste, por pouco não soçobrou a uma anemia nos começos da maternidade. Em dezembro de 1949, nascia, então, a pequena Maria Júlia, a mais velha de 9 irmãos. Quatro anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda se escutavam, na freguesia de Cervães, do concelho de Vila Verde, os falares das senhas de racionamento e da pobreza imensa que atingia as populações.
A menina nascida, como em berço de oiro, deliciava-se com o avô médico e repórter local do Vale do Cávado. Como Deus com os Anjos, a religião católica era o substrato alimentador da fé de todos. E foi essa fé que propiciou o nascimento de uma vocação religiosa, na família, além de um tio jesuíta, mais velho.
A escolha da Congregação religiosa não satisfazia o pai, que queria que a filha fosse freira de um destino que valesse a pena, que fosse mais visível e mais interessante. Para seu descontentamento, não foi assim que a filha, Maria Júlia, então, decidiu. O ti Manel vingar-se-ia no dia da Profissão Perpétua na Congregação das Irmãs Adoradoras. Ergueu uma festa de arromba como se de um casamento se tratasse até quis que o anel fosse de oiro e não de prata como é tradição na vida religiosa…
Esta comunidade, em que Maria Júlia Bacelar ingressou, pertencia à Congregação das Adoradoras Escravas do Santíssimo Sacramento e da Caridade, fundada no século XIX, em 1856, por Santa Maria Micaela, uma aristocrata madrilena, viscondessa de Jorbalán.
Aqui chegados à entrevista, avisamos os ouvintes, que não podemos revelar nenhum dos nomes das instituições e das utentes destes lugares, já veremos por quê. Poderíamos dizer que, aqui, impera um secretismo, quase policial.