Maria Rueff sobre o Papa Francisco: "Todos os humoristas deviam agradecer este encontro"
Maria Rueff integra o grupo de mais de cem humoristas mundiais que, juntamente com Joana Marques e Ricardo Araújo Pereira, vai ser recebido pelo Papa Francisco. A TSF falou com a autora antes do encontro
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Mais de cem humoristas mundiais, entre eles os portugueses Maria Rueff, Joana Marques e Ricardo Araújo Pereira, vão ser recebidos pelo Papa Francisco, esta sexta-feira, no Vaticano.
Em comunicado, a Santa Sé adiantou em comunicado que este encontro pretende estabelecer um diálogo entre a igreja católica e os humoristas. Para o Vaticano, a arte da comédia é essencial para contribuir para um mundo mais empático e solidário.
À TSF, Maria Rueff sublinhou que este encontro é histórico e reconhece que é um encontro que "todos os comediantes deviam agradecer porque é uma forma de, finalmente, dignificar a arte da comédia, que é sempre tida como a parente pobre das artes. Desde que o Papa Francisco tomou posse que referiu a importância do humor, e essa necessidade que o mundo tem de alegria, de felicidade, para suportar o peso dos acontecimentos. E, neste momento, em que o mundo está em guerra, este apelo à alegria e à capacidade de relativização, que é aquilo que o humor faz, acho [esta] uma medida absolutamente chocante do Papa Francisco. E é a primeira vez, em termos históricos, que a igreja faz isto. Basta recordar, por exemplo, 'O Nome da Rosa', de Umberto Eco, para se perceber todo o que medo que houve sempre em relação à comédia, os cómicos condenados, queimados. Isto são sinais muito belos e que a mim me tocam muito especialmente".
O Papa Francisco tem, ao longo do seu pontificado, mostrado, em diversos momentos, o seu sentido de humor. Maria Rueff lembra episódios conhecidos da descontração do líder da igreja católica. "O Papa é profundamente acessível e tem a tal alma simples que vem nessa tal oração de São Tomás More. Mesmo a forma como assumiu o seu pontificado, acabando com as capas magnas, com todo aquele lado faustoso da igreja, a simplicidade, a assunção do nome Francisco, que é o santo mais pobre, ou mais virado aos pobres da igreja. Eu acho que ele procura sempre proximidade. E, na proximidade, há, com certeza, brincadeira. Aliás, são conhecidos vários momentos dele. Ainda agora, nestas jornadas das crianças que houve em Roma, as crianças, com o seu impulso, correram para o palco para falar com ele, e ele disse, "temos de aprender a recuperar esta espontaneidade", esta espontaneidade que a vida adulta nos tira" reconhece Maria Rueff.
E, apesar de ser conhecida pelo trabalho como humorista, Maria Rueff garante que não tem qualquer piada para dizer ao Papa, até porque, lembra "quem me conhece, sabe como eu sou tímida, e o quão sério a maior parte dos cómicos são. Não todos, mas a maior parte dos comediantes são tímidos e sérios. Porque, não parece, mas a comédia, o engenho de fazer da comédia uma catarse, que é o que ela é, é um trabalho de filigrana, é um trabalho muito delicado, e é um trabalho de profunda obsrevação da natureza humana. Por isso, espero que seja o Papa Francisco a fazer-me rir. Não tenho essa veleidade de o fazer rir. Vou, com certeza, a beber tudo o que ele disser porque será, só este encontro, esta manifestação, muito inspiradora".
O encontro entre o Papa Francisco e os humoristas, onde se encontram os norte-americanos Jimmy Fallon, Stephen Colbert e Whoopi Goldberg e os humoristas brasileiros Fabio Porchat e Cristian Werson, vai acontecer esta sexta-feira às 08h30 locais (07h30 em Lisboa).
