"A Poesia é um grito contra a violência." É a partir deste megafone que o Festival de Foz Côa presta homenagem à única das "três Marias" ainda viva. De sexta a domingo, a obra poética de Maria Teresa Horta, enche as ruas e os lugares daquela vila, 50 anos depois da publicação das Novas Cartas Portuguesas: "Foi um burburinho, mas depois foram anos e anos e anos de silêncio."
Corpo do artigo
Maria Teresa Horta sai pouco de casa. Não vai ao festival, mas estará ligada à distância. "Toda a poesia que eu conheço, é um grito sempre. Contra ou a favor. Lembro-me logo das mulheres e do fascismo. É uma coisa tremenda, de vez em quando acordo, penso que estou nessa altura e digo: 'Ai Maria Teresa, calma...' Temos de cuidar muito bem da liberdade que temos."
A homenagem ronda a obra poética da escritora, no ano e no mês em que se celebram os 50 anos das "Novas Cartas Portuguesas". O tempo corre para trás na memória de Maria Teresa Horta, lamentando o silêncio que caiu em Portugal sobre os textos escritos em parceria com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa: "Na altura em que se publicaram, obviamente que houve burburinho, falou-se, mas depois nunca mais ninguém quis saber, passaram-se anos, e ficou tudo indiferente. Falavam-me de França e de outros países, mas em Portugal nunca mais ninguém falou do livro, mas sempre que sai uma nova edição, esgota."
Ainda me sento na cama a ler as novas cartas
"Sim, de vez em quando sento-me na cama a ler e a ver se ainda me lembro de quem são os textos. Cada uma escreveu o que queria, juntávamo-nos uma vez por semana e líamos em voz alta. Foram nove meses certinhos, nove meses unidas. Estávamos entusiasmadas. Foram dos dias mais maravilhosos da minha vida." De abril a dezembro de 1971, é essa a época recordada por Maria Teresa Horta. A primeira edição da obra foi publicada em abril de 72, e destruída três dias depois pela censura, que a considerou uma obra de conteúdo pornográfico e atentatório da moral pública.
Maria Teresa Horta não hesita em afirmar que As Novas Carta Portuguesas continuam atuais: "Eu penso que a situação da mulher mantém-se com uma atualidade enorme. Há uma diferença, claro que há, mas em relação à luta das mulheres, não é uma coisa assim tão diferente." Por isso deu também o seu contributo ao espetáculo que estreia esta quinta-feira no Teatro Nacional Dona Maria II , "Ainda Marianas", para continuar a celebrar as Novas Cartas, na voz das jovens mulheres de hoje.