Marinha reforça vigilância na ZEE portuguesa. Travadas duas tentativas de trasfega de combustível
Ambos os casos ocorreram na última semana: um na Madeira, com um navio chinês, e outro perto de Portimão, onde a Marinha impediu a trasfega de crude de um petroleiro com a bandeira da Síria.
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Desde o início da guerra na Ucrânia, a Marinha reforçou a vigilância na Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Portugal. Só na última semana, foram detetadas - e travadas - duas tentativas de trasfega de combustível na zona controlada pela Marinha Portuguesa.
O primeiro caso aconteceu ao largo da Madeira e envolveu um navio chinês. O segundo foi na madrugada de sábado, a pouco mais de 150 quilómetros de Portimão, onde a Marinha impediu a trasfega de crude de um petroleiro com a bandeira da Síria. Ao abrigo da convenção da ONU sobre o Direito do Mar, Portugal não autoriza este tipo de atividade dentro da Zona Económica Exclusiva.
José Sousa Luís, porta-voz da Marinha, garante que não se conhecem outros casos, mas revela que desde que a guerra começou foram reforçados os meios de vigilância.
"Desde o início do conflito na Ucrânia, a fiscalização na ZEE portuguesa foi reforçada, tendo sido também aumentada a recolha e tratamento de dados de outras fontes de informação e disponibilização de mais meios quando necessário", afirma, em declarações à TSF.
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Por questões de segurança, o porta-voz da Marinha não diz mais, mas explica quais são os movimentos que levantam as suspeitas dos militares.
"Os navios para fazerem esta trasfega de combustível têm de ficar a pairar, não têm seguimento no mar, e têm de ficar junto um ao outro. Nós temos sistemas de controlo remotos e detetamos a navegação nas nossas áreas. Assim que detetamos o movimento de um navio a pairar e outro em aproximação, trata-se de um movimento suspeito", esclarece.
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A Marinha só pode intervir se esta ação acontecer na Zona Económica Exclusiva de Portugal. Fora, em águas internacionais, os militares portugueses nada podem fazer.
"É quase um mercado negro", afirmam ambientalistas
Também ouvida pela TSF, Carolina Silva, responsável pelas questões do transporte marítimo na associação ambientalista Zero, não tem dados concretos sobre o que se passa ao largo da costa portuguesa, mas alerta que operações como as que foram conhecidas na última semana acontecem com frequência em águas internacionais e intensificaram-se depois do início da guerra na Ucrânia.
"Já acontecia com o petróleo da Venezuela e do Irão. Agora o que acontece é que estes navios estão a fazer a mesma coisa com o petróleo russo e não é só aqui no Atlântico, também está a acontecer no Mediterrâneo", indica, sublinhando que este "é quase um mercado negro".
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Para os ambientalistas, estas operações representam um grave perigo ambiental. Carolina Silva recorda o impacto que o derrame do "Prestige", em 2002, teve no transporte de matérias perigosas por mar, ao largo da costa portuguesa.
"Ao longo do Cabo da Roca e do Cabo de São Vicente temos dois corredores sul e dois corredores norte que orientam o tráfego dos navios. Os navios que transportam matérias perigosas, como é o caso dos petroleiros, terão sempre que circular no corredor correspondente mais afastado e esta foi uma mudança muito importante, porque estávamos a ver um tráfego marítimo extremamente próximo da costa e, em caso de acidente, as consequências seriam catastróficas. Portugal agiu no sentido de afastar estes corredores marítimos e orientá-los", acrescenta.