"Bancos têm de preservar capital." Centeno não vê como adequados prémios a gestores do Novo Banco
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, está a ser ouvido esta terça-feira pelos deputados da Comissão de Orçamento e Finanças (COF).
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Para Mário Centeno "a estabilidade financeira é um assunto global e coletivo". O Governador do Banco de Portugal elogia o papel das famílias e das empresas no combate à crise pandémica e económica
Mas o Governador deixa um alerta: "o papel das moratórias é essencial e deverá continuar a ser mas o esforço de preservação de capital deverá ser acompanhado de medidas que permitam aos Bancos ultrapassar a crise mantendo o mesmo contributo de apoio à economia que até aqui têm dado".
Mário Centeno aponta vulnerabilidades e riscos. "Do lado negativo: o elevado endividamento dos vários setores institucionais apesar de trajetórias de redução; a perda de valor dos colaterais que suportam os empréstimos concedidos; a diminuição da rendibilidade das empresas que coloca pressões sobre o cumprimento creditício; o mercado de trabalho, onde a redução do número de horas trabalhadas coloca pressão sobre o nível de emprego, apesar das políticas publicas de preservação do emprego, como por exemplo o lay-off simplificado", destaca.
Por outro lado, para Mário Centeno, "as moratórias atingem em Portugal uma dimensão muito significativa e representam um instrumento de liquidez que se deve manter ativo mas flexível em função da dimensão da crise".
O Governador do Banco de Portugal lembra que 15% do stock da dívida das pequenas e médias empresas (PME) pode ser revertido em crédito malparado no final das moratórias em setembro de 2021, ou seja, o crédito mal parado pode aumentar 11 mil milhões de euros.
Novo Banco
O Governador do Banco de Portugal revelou esta manhã aos deputados que solicitou ao Tribunal da Relação o levantamento do segredo do chamado "relatório Costa Pinto".
Depois de o Tribunal autorizar o levantamento desse segredo os deputados podem receber o documento que analisou a forma como o Banco de Portugal, liderado por Carlos Costa, reagiu ao agravamento dos problemas do BES.
Mário Centeno quer levantar o segredo de um documento que já foi citado na comunicação social como sendo critico da atuação de Carlos Costa no período anterior à resolução do banco liderado por Ricardo Salgado.
O Governador do Banco de Portugal mostrou ainda estar contra a atribuição, este ano, de prémios de desempenho aos administradores do Novo Banco.
Questionado pelos deputados Mário Centeno revelou que os prémios de dois milhões de euros atribuídos no ano passado à equipa de António Ramalho, não se deveriam repetir este ano porque "os bancos têm que preservar capital".
Para Mário Centeno "esta medida (de bónus aos administradores) tem um impacto negativo direto no capital dos Bancos, nesse sentido e atendendo que em 2020 se registou uma muito significativa injeção de capital no Novo Banco, nós não vimos como adequada esta prática no Novo Banco em 2020", concluiu.