Maus-tratos a crianças: APAV defende que sinalização de casos depende de maior colaboração entre médicos e organizações
A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima defende uma maior proximidade entre os médicos e as estruturas que trabalham com crianças e com a comunidade para facilitar o encaminhamento das vítimas de violência
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De forma a aumentar o número de denúncias que são feitas, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) pede uma maior colaboração entre os médicos e as organizações que trabalham com crianças que sofrem maus-tratos.
Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), que inclui dados de duas décadas, concluiu que crianças vítimas de eventos traumáticos podem estar a escapar ao radar dos profissionais de saúde e, consequentemente, das autoridades competentes.
Segundo um resumo enviado à agência Lusa, “apenas 2%” das crianças com menos de 16 anos seguidas na Unidade Local de Saúde de Matosinhos, no distrito do Porto, de 2001 a 2021, estão referidas como prováveis vítimas de abuso, negligência ou disfunção familiar, ou seja cerca de 900 em mais de 40.000.
Em declarações à TSF, Carla Ferreira, gestora da rede APAV Care, especializada em apoiar crianças e jovens vítimas de violência sexual, considera que o que está a faltar "é uma maior proximidade com outras estruturas que trabalham com crianças e com a comunidade". Para a responsável, a colaboração entre as diferentes organizações pode ser importante "para que seja claro para os profissionais de saúde como é feito encaminhamento das vítimas e para denunciar as situações junto das forças de segurança". "O essencial é que os médicos não tentem resolver a situação pelos próprios meios e que possam convocar uma articulação interdisciplinar", acrescenta.
A gestora da rede APAV Care ressalva que "esta interligação não significa expor a criança a diferentes profissionais". Carla Ferreira explica que "a dimensão médica tem um limite de intervenção, como a dimensão policial tem um limite de intervenção, como a dimensão de apoio a vítimas tem um limite de intervenção e no respeito pelas áreas de intervenção de cada um podemos evidenciar estas crianças o melhor possível". "O importante é que haja uma ação célere, porque o objetivo é sempre proteger as crianças, salvaguardá-las não apenas no bem-estar físico, mas também no emocional", continua.
Carla Ferreira sublinha que os números revelados pelo estudo são preocupantes e lembra que "os profissionais de saúde assumem um papel muito relevante nestas matérias".