Média negativa de Biologia significa "morrer na praia". Matemática A subiu, mas havia perguntas "de ensino básico"
Em declarações à TSF, o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática considera que o exame deveria ter "perguntas que permitissem distinguir alunos apenas esforçados de alunos excecionais"
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O Ministério da Educação, Ciência e Inovação divulgou na segunda-feira as médias da primeira fase dos exames nacionais do secundário. Foi com "desilusão" que a Associação Portuguesa de Professores de Biologia e Geologia recebeu os resultados desta disciplina, a única a ter uma média negativa: 9,9 numa escala de zero a 20.
"Parece que morremos na praia", afirmou à TSF Adão Mendes, presidente da organização, que recebeu "com alguma surpresa" um resultado "no limiar do dez".
Agora, é tempo de tirar conclusões. São necessários mais dados, por exemplo, "o número de alunos externos que se propuseram a fazer o exame não tendo frequentado a disciplina", sublinhou ainda. Notando que não foi "desinteresse", Adão Mendes enfatizou que realizaram a prova mais de 37 mil estudantes.
Por sua vez, o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM) desvalorizou a média da disciplina. Depois do 11 do ano passado, a média a Matemática A subiu para os 12,1.
José Carlos Santos assinalou que, nos últimos anos, estas provas têm tido níveis de exigência distintos, o que dificulta fazer comparações: "A partir da pandemia, começaram a simplificar um bocado as coisas e, realmente, isso leva a outro problema: não se pode comparar exames de anos diferentes, porque realmente os critérios vão mudando."
Exemplificou que, no exame deste ano, houve questões de estatística "que podiam ser resolvidas com conhecimentos do ensino básico": "Isto é um exame do 12.º ano, não faz grande sentido fazer perguntas deste nível." E mais: "Em 2020, houve uma redução no número de questões e manteve-se a duração [para realização da prova]."
Contextos diferentes, em que "o nível de exigência tem vindo a baixar". "E o que é que acontece? Os alunos, para provas menos exigentes, preparam-se menos e, consequentemente, depois ficam com um déficit maior de conhecimentos", realçou igualmente o presidente da SPM. Isto reflete-se a níveis internacionais, quando antes Portugal "era um modelo a seguir" e, atualmente, apresenta classificações mais baixas em rankings como o PISA.
Nos últimos anos, as provas nacionais não têm sido capazes de diferenciar os estudantes: "Um aluno que consiga trabalhar regularmente, mesmo sem um grande esforço, consegue ter uma nota elevada. Devia haver algumas perguntas que permitissem distinguir alunos apenas esforçados de alunos excecionais. Isso não há."
