Médica que fez denúncias de "más práticas clinicas" no Hospital de Faro arrisca-se a pagar indemnização de 172 mil euros
Diana Pereira está a ser julgada por difamação, mas a IGAS já determinou a suspensão por 40 dias a um dos médicos acusados
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Diana Pereira, a médica interna que há dois anos denunciou cirurgiões do Hospital de Faro por más práticas clínicas, está a ser julgada no Tribunal Cível desta cidade. Na altura, a jovem médica acusou o diretor do serviço de cirurgia, Gildásio Martins dos Santos, de ser conivente com a situação e de proteger a incompetência do cirurgião Pedro Henriques, que era seu orientador. Martins dos Santos acusa-a de ter manchado o seu bom nome e reputação.
"O Dr. Martins dos Santos entendeu que devia pedir uma indemnização no valor de 172 mil euros à Dr.ª Diana Pereira pela denúncia pública que ela fez", contou o advogado da arguida, Francisco Teixeira da Mota, durante a sessão da manhã desta quinta-feira, no Tribunal Cível de Faro.
O tribunal ouviu o testemunho de uma doente que entrou no Hospital de Faro para ser operada a um pequeno tumor no intestino por laparoscopia, mas saiu de lá também sem um rim. A doente, operada pelo médico denunciado por Diana Pereira, contou que foi sujeita a quatro anestesias gerais, ficou um mês internada e saiu com uma sonda e um cateter no rim.
Este foi um dos alegados 11 casos de más práticas clínicas denunciados pela médica que, em 2023, fazia o internato no Hospital de Faro.
A doente afirmou que nem o médico que a operou nem qualquer pessoa da equipa lhe explicaram o que aconteceu na cirurgia, durante o tempo em que esteve internada.
Um médico anestesista, que trabalha no hospital de Gaia e é prestador de serviços no Hospital de Faro, afirmou também no tribunal que nada tem a dizer profissionalmente do diretor do serviço de cirurgia, mas que nos “corredores” se afirmava que ele protegia o outro médico acusado e que se dizia que no Hospital de Faro havia demasiadas pessoas a serem operadas mais do que uma vez.
A Inspeção Geral de Atividades em Saúde (IGAS) propôs no início deste mês que fosse aplicada ao cirurgião Pedro Henriques uma sanção de 40 dias de suspensão, com perda de salário e antiguidade. O processo-crime instaurado pelo Ministério Público, após a denúncia de Diana Pereira, ainda está a decorrer os seus trâmites.
"O Tribunal pediu que fosse solicitado ao DIAP de Évora, onde está a decorrer o processo-crime, que mandasse uma certidão da queixa e informasse em que estado está esse processo", adiantou Teixeira da Mota aos jornalistas. O advogado disse não ter dúvidas de que Diana Pereira foi penalizada.
"É a tragédia de todos os denunciantes”, lamentou. "As pessoas que afrontam os sistemas que estão estabelecidos, o status quo, quando não são esmigalhados, sacrificados são, seguramente."
O diretor do serviço de cirurgia do Hospital de Faro foi presidente do conselho regional da Ordem dos Médicos e secretário regional do Sindicato Independente dos Médicos. O seu advogado, Paulo Sá e Cunha, não quis prestar declarações.